Itália pede que Paris se desculpe por crítica sobre imigrantes
Roma convoca embaixador em Paris e Macron pede que italianos mantenham a razão em meio a disputa
A Itália convocou ontem seu embaixador na França e rejeitou as críticas de Paris a suas políticas de imigração, agravando a crise diplomática entre os dois países. O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, exigiu que a França “se desculpe”.
O ministro da Economia da Itália, Giovanni Tria, também cancelou uma reunião com seu colega em Paris, um dia após o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmar que Roma havia agido com “cinismo e irresponsabilidade” ao fechar os portos aos migrantes.
“Não temos nada o que aprender sobre generosidade, voluntarismo, hospitalidade ou solidariedade de ninguém”, afirmou Salvini, que também é vice-premiê e líder do partido Liga, anti-imigração.
Salvini disse que não está preparado para receber críticas de um país que regularmente impede a passagem de imigrantes na fronteira com a Itália. A crise começou com o navio Aquarius, impedido de atracar em portos da Itália e de Malta. A embarcação leva 629 migrantes e agora se dirige à Espanha, escoltada por duas embarcações italianas.
Mais cedo, Macron havia pedido para que os italianos priorizassem a razão e deixassem as emoções de lado após as críticas feitas por ele ao governo do país vizinho.
“Há um ano que trabalhamos ao lado da Itália de forma exemplar. Diminuímos as chegadas, com um trabalho na Líbia e no Sahel ativo e construtivo”, disse Macron sobre a cooperação com o governo vizinho para reduzir a chegada de imigrantes do norte da África.
O caso tocou um dos assuntos mais controversos na política europeia: o compartilhamento da responsabilidade pelos imigrantes que tentam entrar no bloco vindos de zonas de guerra e de países pobres, principalmente do continente africano e do Oriente Médio.
A Liga, de Salvini, recebeu sua maior votação na história nas eleições de março em parte por conta de suas promessas de deportar centenas de milhares de imigrantes e conter o fluxo de novos refugiados. O partido formou uma coalizão com o Movimento 5 Estrelas (M5S), que também é populista e anti-imigração.
Mais de 1,8 milhão de pessoas chegaram à Europa desde 2014, e a Itália ficou com mais de 170 mil que pediram asilo, além de meio milhão de imigrantes não registrados. Governos italianos anteriores acusaram outros Estados da UE de ter ignorado os pedidos da Itália para ajudar a receber os imigrantes e compartilhar os custos de seus cuidados.
A França tentou adotar um tom mais conciliador na quarta-feira, com a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Agnes von der Muhll, dizendo estar “completamente ciente do fardo que as pressões migratórias impõem à Itália” e garantiu que a França está comprometida em cooperar com Roma.