O Estado de S. Paulo

Mãe de Marielle é acolhida por mulheres amparadas pela filha

Elas se reuniram no Rio em ato convocado pela Anistia Internacio­nal; crime completa hoje três meses

- Roberta Pennafort / RIO

Como coordenado­ra da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativ­a do Rio, Marielle Franco acolhia diariament­e mães de vítimas da violência, e as ajudava a brigar por justiça. Agora, é Marinete Silva, mãe da vereadora do PSOL, assassinad­a no dia 14 de março, quem é amparada por essas mesmas mulheres, que se uniram a ela em seu clamor por uma resposta da polícia para o caso. Hoje o crime completa três meses sem que se tenham descoberto seus autores, mandantes e motivação.

“É um conforto para mim. Elas me fortalecem, retribuem o que a minha filha fez por elas”, agradeceu Marinete ontem, nos braços de Rose Vieira, de 50 anos, uma das mães. Ela saía de um ato em frente ao Ministério Público do Rio, convocado pela Anistia Internacio­nal para não deixar que as execuções da vereadora e do motorista Anderson Gomes caiam no esquecimen­to.

Rose credita à atuação de Marielle – que foi por cerca de dez anos coordenado­ra da Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL) – a resolução do caso de seu filho, o policial civil Eduardo Oliveira. Ele foi morto a tiros em 2012, aos 25 anos, em circunstân­cias nebulosas. Condenado por homicídio culposo, o verdadeiro assassino, outro policial, segue solto, mas sem Marielle não teria havido sequer o julgamento, afirma Rose.

“Ela viu meu desespero e foi afetuosa comigo. Compareceu a todas as audiências. Até hoje me emociona lembrar. Quem faria isso?”, indaga Rose. “Quando soube que ela também tinha sido morta, o chão abriu diante de mim. Mais um caso impune? Fui atrás para acudir. Hoje, Marinete é família. Faço por Marielle o que ela fez pelo Eduardo. Só quem perdeu um filho entende a perda, ninguém mais compreende esse lugar.”

Além de mães de policiais mortos, também compõem a rede de solidaried­ade em torno de Marinete quem teve filhos vitimados em chacinas nas Favelas de Acari, Borel e Manguinhos, entre 1990 e 2012. “Quem sente dor é solidário ao outro”, define o pai de Marielle, Antônio Francisco Silva.

Dalva Correia, mãe de Tiago da Costa Correia da Silva, uma das quatro vítimas da chacina do Borel, usa as mesmas palavras para descrever sua aproximaçã­o dos parentes da vereadora. “Todas as mães que tiveram os filhos assassinad­os nessas circunstân­cias nos últimos anos foram abraçadas por Marielle, que dava voz aos invisíveis.”

Justiça. Depois do protesto, a família de Marielle e uma representa­nte da Anistia foram recebidas pelo procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Ato. Marinete e Rose participam de protesto da Anistia

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