O Estado de S. Paulo

Russos não entraram em clima de Copa

- Gonçalo Junior

Eliminada na primeira fase nos três últimos Mundiais que disputou (1994, 2002 e 2014), a Rússia abre a 21.ª edição da Copa do Mundo diante da Arábia Saudita, hoje, ao meio-dia, como coadjuvant­e, longe de ser favorita. Esses fiascos ajudam a explicar a chegada tardia do clima de festa. Mas não é tudo. Foi só no início desta semana que os torcedores russos começaram a aparecer na Praça Vermelha, arquibanca­da urbana ocupada pelas torcidas de vários países nas vésperas do Mundial. Pouco afeitos à paixão do futebol, os russos foram puxados pelas mãos de uruguaios, iranianos e argentinos quase literalmen­te para a ciranda da bola. Essa será uma Copa dos estrangeir­os.

Distante do solene discurso do presidente Vladimir Putin, que afirmou ontem no Congresso da Fifa que “o sonho da Copa está se tornando realidade”, a vida miúda dos russos comuns vai seguir normalment­e hoje. Não há previsão de alteração no horário dos bancos, que funcionam das 10h às 20h. As universida­des têm uma espécie de semana do provão. O brasileiro Guilherme Gerotto da Costa, estudante de Administra­ção na Escola Superior de Economia, já se acostumou. “As provas não param por causa da Copa”, explica. As empresas privadas não pretendem liberar seus funcionári­os mais cedo – o jogo na Rússia será às 18 horas.

O Brasil também vivia certo desinteres­se com a Copa quatro anos atrás, mas o contexto era outro. O Mundial era contestado por vários motivos, entre eles o estouro de orçamento: foram R$ 26,5 bilhões de acordo com os números oficiais, mas parte das obras nem sequer ficou pronta. Aquele clima de “não vai ter Copa” no Brasil se transformo­u em um intrigante “cadê a Copa?” na Rússia. Faltava uma semana e parecia que faltava um mês. A apresentaç­ão da taça, no dia 3, concorreu com uma feira de livros tradiciona­l em Moscou. Concorreu e perdeu. “O número de pessoas foi tão pequeno para ver a taça que eu consegui ficar colado no palco, perto da imprensa”, comemora o engenheiro mecânico Victor Gers.

Nos últimos dias, a temperatur­a subiu alguns graus, acompanhan­do os termômetro­s do esquálido verão. Meio sem jeito, meia dúzia de gatos-pingados fica repetindo “Rússia, Rússia”. Não há um hino provocativ­o como “Brasil decime qué se siente”, dos argentinos. Ou a criativida­de dos colombiano­s, que levaram uma réplica do troféu às ruas para tirar selfies. “A Rússia é aberta, parecida com o Brasil, mas não é fanática por futebol”, explica a professora Elena Vassina, especialis­ta em Literatura Russa.

Uma coisa ajudou na manifestaç­ão recente do espírito de Copa: o feriado do Dia da Rússia (12 de junho). Inspirados pelo patriotism­o – nisso, eles são craques – , os russos desenrolar­am as bandeiras. “Seremos campeões no futebol quando Brasil for campeão de hóquei”, brinca o mecânico Alexei que, como a maioria dos russos, evita revelar o sobrenome.

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FACUNDO ARRIZABALA­GA/EFE Festa. Fãs de futebol se reúnem na Praça Vermelha

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