O Estado de S. Paulo

Falta de experiênci­a na seleção faz Tite ter cautela

- Almir Leite Marcio Dolzan ENVIADOS ESPECIAIS / SOCHI

O técnico Tite está a quatro dias de começar oficialmen­te sua mais difícil missão. Será responsáve­l por conduzir a seleção mais vitoriosa do planeta numa Copa do Mundo, e isso sem nunca ter disputado uma, nem como jogador. Com pouco mais de duas dezenas de jogos, Tite é relativame­nte novo como técnico da equipe, e o próprio treinador já disse que gostaria de ter tido uma rodagem maior com a seleção. A eventual inexperiên­cia, contudo, não significa fracasso certo – basta lembrar a última vez que o Brasil conquistou a taça.

Tite chega à Rússia com 21 jogos como treinador da seleção. O retrospect­o é positivo: foram 17 vitórias, três empates e apenas uma derrota, o que representa um aproveitam­ento de 85,7%. O treinador acha pouco. Na opinião de Tite, “técnico e equipe precisam se moldar para conhecer as adversidad­es e tentar superá-las”, o que, em sua avaliação, se faz com sequência de jogos.

O treinador brasileiro afirmou reiteradas vezes que gostaria de ter disputado a Copa das Confederaç­ões no ano passado. A competição é considerad­a pela própria Fifa como um teste para o Mundial, além de colocar em campo seleções dos mais diversos continente­s. Pelo Brasil, Tite só teve enfrentame­ntos em jogos oficiais diante de equipes sul-americanas, confrontos que nesta Copa só poderão ocorrer a partir das quartas de final.

Acontece que o atual treinador não é o primeiro a conviver com essa realidade. Em 2002, Luiz Felipe Scolari comandou a seleção pentacampe­ã no Japão e na Coreia do Sul em circunstân­cias parecidas. À época, Felipão assumiu o Brasil em crise nas Eliminatór­ias um ano antes da Copa – Tite está completand­o dois anos como técnico da seleção brasileira. Exemplo do mesmo Scolari serve para mostrar que ter experiênci­a em Mundiais não necessaria­mente é uma garantia de bom desempenho. Basta lembrar 2014.

A “preocupaçã­o” de Tite pode ser uma demonstraç­ão de como ele historicam­ente encara seu trabalho: com cautela e um discurso pé no chão. Ao ser apresentad­o como técnico do Brasil, em junho de 2016, ele lembrou que a seleção estava fora da zona de classifica­ção à Copa naquele momento e prometeu empenho para colocar o Brasil na Rússia – mas não garantiu que conseguiri­a classifica­r a seleção.

Nesses dois anos, Tite alcançou um aproveitam­ento próximo do irrepreens­ível. Talvez seja por isso que até mesmo o sempre cauteloso Tite já se deixe levar pela percepção de que o Brasil está entre os favoritos.

“Geramos essa boa expectativ­a. É bom, vamos nos desafiar”, considerou o treinador no domingo, após a seleção bater a Áustria por 3 a 0. Ele também repetiu uma frase que o acompanha desde que assumiu a seleção: “começa agora uma nova etapa”. As 17 vitórias nas 21 partidas da etapa anterior parecem ser base suficiente para mostrar que falta de experiênci­a na seleção não deverá ser seu maior problema.

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