Decisão do Fed afeta câmbio e inflação
Alta de juros nos EUA pode levar a desvalorização do real e aumento de preços
O Fed, banco central dos Estados Unidos, subiu a taxa de juros no país, ontem, em 0,25 ponto porcentual, para o intervalo entre 1,75% e 2%, e sinalizou que elevará os juros em um total de quatro vezes este ano – uma a mais do que era esperado no início do ano. O anúncio pressionou o mercado de câmbio ao redor do mundo. No Brasil, o dólar à vista fechou o dia a R$ 3,71, após intensas intervenções do Banco Central.
Taxas mais altas nos Estados Unidos têm o potencial de atrair à maior economia do mundo recursos que antes estavam aplicados em outros mercados, como o Brasil. O resultado pode ser uma desvalorização da moeda brasileira – potencializada por um cenário eleitoral completamente incerto. Desde janeiro, o dólar teve alta de 12% em relação ao real. “O brasileiro, o turco e o argentino: todo o mundo emergente vai ter de conviver com uma moeda mais fraca”, diz Fabio Silveira, da MacroSector.
Um dos primeiros impactos do fortalecimento do dólar na economia brasileira pode ser uma pressão inflacionária, já que muitos dos insumos do agronegócio e da indústria são importados. Os preços podem subir para o consumidor. As empresas brasileiras também podem ter mais dificuldades para fazer emissões no exterior e levantar recursos, uma vez que os investidores vão exigir uma remuneração maior. “O custo do dinheiro fica mais caro e as companhias também podem repassar isso para os preços”, diz o economista Alexandre Cabral. Apesar de o dólar mais alto favorecer os exportadores brasileiros, a volatilidade da moeda também prejudica o planejamento de contratos.
Alguns analistas acreditam que a pressão do dólar sobre a inflação vai forçar o Banco Central a antecipar o aperto monetário, com possibilidade de um aumento dos juros no fim deste ano. Outros preferem enfatizar a comunicação dada até o momento pela instituição, de que a política monetária não será atrelada ao câmbio. A projeção majoritária de analistas ouvidos pelo Estadão/ Broadcast é de que a Selic, taxa básica de juros da economia, será mantida em 6,5% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para os dias 19 e 20 de junho.
“É claro que a atuação do Federal Reserve merece um acompanhamento, mas o cenário para emergentes já vem se mostrando desafiador há algum tempo e esse risco de alta de juros
nos EUA é um risco que já estava no mapa do BC”, avalia o economista da Tendências Silvio Campos Neto.
O aumento de ontem pelo Fed foi o sétimo do atual ciclo de aperto monetário do banco
central americano, que começou em 2015. Antes do comunicado, o mercado estava dividido tentando antecipar se seriam três ou quatro altas ao todo este ano, em meio a sinais de melhor desempenho econômico dos EUA. Em março, os juros já tinham subido 0,25 ponto porcentual, para o intervalo entre 1,5% e 1,75%.
A última vez em que a taxa superou 2% foi no final do verão de 2008, quando a economia estava contraindo e o Fed estava reduzindo as taxas para zero, onde permaneceriam por anos após a crise financeira. Ontem, ao aumentar os juros, o Fed retirou sua promessa de manter a taxa
baixa o suficiente para estimular a economia “por algum tempo” e sinalizou que toleraria a inflação acima da meta pelo menos até 2020. “A economia está indo muito bem”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell.
Real. No Brasil, para segurar altas mais agressivas no câmbio, ontem, o Banco Central entrou em ação. Logo após o comunicado do Fed, a autoridade brasileira anunciou seu terceiro leilão do dia de swap cambial tradicional – equivalente à venda futura de dólares – injetando um total de US$ 4,5 bilhões.
Foi o maior volume diário de recursos desde que a disparada
do dólar começou e ainda tem mais cerca de US$ 8 bilhões para serem colocados entre hoje e amanhã, dentro do programa anunciado na semana passada que prevê a injeção de US$ 20 bilhões até o final desta semana.
Essa atuação, somada à perda de força do dólar ante outras divisas ontem, foi fundamental para conter a valorização da moeda no mercado doméstico.
Em meio à volatilidade, o operador de câmbio da Spinelli, José Carlos Amado, avalia que o BC conseguiu “suavizar” o mercado. A moeda chegou a encostar nos R$ 3,73 ontem.