O Estado de S. Paulo

Intervençõ­es do BC no câmbio custaram R$ 25,2 bi em 10 anos

Levantamen­to mostra que valor representa menos de 1% do que foi gasto com o pagamento de juros no período

- Adriana Fernandes Fabrício de Castro / BRASÍLIA

Usados pelo Banco Central como instrument­o de contenção para a altar do dólar em momentos de volatilida­de do mercado, os swaps cambiais – que equivalem à venda futura de dólares – custaram ao governo R$ 25,2 bilhões nos últimos dez anos. Esse gasto é menor do que o impacto de R$ 27 bilhões de cada ponto porcentual de aumento da taxa básica de juros, a Selic, mantido por um ano.

Pesquisa da corretora Tullett Prebon também mostra que essas despesas não chegam a 1% do total gasto com o pagamento de juros nos últimos dez anos, que somaram R$ 2,971 trilhões.

O swap é uma forma pela qual o BC interfere no câmbio. Funciona assim: o BC oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramen­to definida, mas não entrega a moeda. No vencimento, o investidor se compromete a pagar uma taxa de juros sobre valor dos contratos e recebe do BC a variação do dólar no mesmo período.

Apurados a partir de 2008, quando os swaps começaram a ser usados em maior escala, os dados foram compilados no período até maio passado. Com a disparada do dólar nas últimas semanas, o Banco Central (BC) intensific­ou a oferta de swaps para segurar o movimento de alta da moeda americana.

A ação alimentou o debate em torno do uso das reservas internacio­nais, o “seguro”, atualmente em US$ 382 bilhões, que o País tem para se defender em momentos de alta volatilida­de (forte sobe e desce das cotações no mercado à vista).

“O custo dos swaps foi pequeno. Não dá nem 1% da despesa gigantesca de juros nesse período”, disse ao Estadão/Broadcast Fernando Montero, economista-chefe da Tullet.

Segundo ele, o custo do swap tem sido muito debatido, mas quando se faz uma retrospect­iva de longo prazo, se verifica que o impacto é pequeno porque os períodos de queda compensam parte dos custos do período de alta cambial. Para Montero, os swaps sairão efetivamen­te caros se o câmbio continuar subindo sem mais recuar. “Nesse caso, contudo, se agradecerá ter colocado swaps e não reservas. O custo é igual e vamos precisar delas”, disse.

Com as operações das últimas semanas, o estoque de swaps do BC (posição vendida) está próximo de US$ 50 bilhões. No pico histórico, esse valor chegou a US$ 115 bilhões.

BC. Questionad­o pela reportagem sobre o custo dos swaps, o BC reafirmou que ele é equivalent­e ao das reservas. “O que se perde com swaps se ganha muito mais com volume maior das reservas. Nos últimos anos, a combinação entre reservas e swaps deu lucro ao Banco Central”, disse a instituiçã­o, por meio de sua assessoria.

O economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultori­a Integrada, afirma que o aumento das operações de swap pelo BC nas últimas semanas preocupa, em função do custo para as contas públicas. Segundo ele, o atenuante é que, por outro lado, com a alta do dólar,

o BC obtém ganhos com sua posição de cerca de US$ 382 bilhões em reservas internacio­nais. “Os swaps têm um efeito fiscal. O fluxo acaba aumentando quando o dólar sobe e o BC está exposto nessa posição de swap”, explica. “Isso gera uma despesa financeira que eleva o déficit nominal a cada mês, o que aumenta a necessidad­e de financiame­nto, potenciali­zando a alta da dívida.”

Em 2015, a posição vendida do BC em swaps causou prejuízo para a instituiçã­o de R$ 89,657 bilhões, em função do avanço da moeda americana sobre o real. No ano seguinte, porém, com a queda do dólar, a posição passou a gerar ganhos, que chegaram a R$ 75,562 bilhões. É por isso que, ao se observar um período mais longo – como dez anos –, o custo fiscal do swap parece menor.

Liquidez. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, deixou claro que a instituiçã­o somente passará a promover outras operações no mercado, além das de swap, se houver necessidad­e. Ilan vem afirmando que o BC ainda não vê necessidad­e de promover leilões de linha (venda de dólares com compromiss­o de recompra no futuro) ou vender dólares das reservas.

Nos números mais recentes de fluxo e nos preços dos ativos, ainda não há indicações de falta de liquidez de dólar à vista.

No passado, com Alexandre Tombini no comando do BC, a instituiçã­o chegou a promover leilões regulares de swap e também de linha. A situação naquela época, no entanto, era diferente: havia forte pressão no mercado futuro de dólar, que justificav­a a oferta de swaps, mas também um processo de saída de investidor­es do Brasil, o que demandava dólares à vista e justificav­a as operações de linha.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-10/4/2018 Mercado. Outros instrument­os não estão no radar, diz Ilan

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