O Estado de S. Paulo

Para Maia, tabela de frete é ‘impossível’

Presidente da Câmara disse que MP sobre o tema dificilmen­te será votada; Supremo deu prazo de 48 horas para o governo se manifestar

- Lu Aiko Otta Igor Gadelha / BRASÍLIA / COLABORARA­M RAFAEL MORAES MOURA E AMANDA PUPO

A crise do frete mínimo dos caminhonei­ros, que vem atrasando a exportação de grãos e dificultan­do a obtenção de matéria-prima para a indústria, ganhou um novo elemento. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), indicou ontem que a medida provisória (MP) que regula o tema, em análise no Congresso, dificilmen­te será votada.

“É impossível fechar uma tabela de preço mínimo para o frete”, afirmou em entrevista após evento da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). “Esse debate vai continuar até que se perceba que não era a melhor solução.”

Assim, uma conquista que os caminhonei­ros consideram histórica passa a sofrer dupla ameaça: a perda de vigor da MP, se não for votada no prazo, e a decretação de sua inconstitu­cionalidad­e, como pretendem ações impetradas no Supremo Tribunal Federal (STF).

Ontem, o ministro Luiz Fux deu prazo de 48 horas para o governo se manifestar sobre a MP. A decisão foi tomada no âmbito de uma ação movida pela Associação do Transporte Rodoviário de Cargas do Brasil (ATR Brasil) contra a medida.

“Se o Supremo derruba ou Congresso não vota, a rua vai dizer”, disse o presidente do Sindicato dos Transporta­dores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí (RS), Carlos Alberto Litti Dahmer. Ele reconhece que não teria, sozinho, condições de convocar uma greve em todo o País. A categoria é bastante fragmentad­a, o que dificulta as negociaçõe­s. Mas, disse, isso poderia acontecer “naturalmen­te”, como no mês passado.

Uma nova paralisaçã­o jamais saiu do horizonte. Wallace Landim, outra liderança dos autônomos, afirmou que se as negociaçõe­s não chegarem a um bom termo os bloqueios voltarão. O preço mínimo está na pauta desde 1999.

Agora, os caminhonei­ros não abrem mão da tabela e os embarcador­es não a aceitam. Nos bastidores, há quem considere esse um impasse insuperáve­l. A Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) tem atuado como mediadora das discussões. Segundo Litti, na terça-feira a categoria entregou uma proposta aos técnicos, que ficaram de conversar com os donos de carga. A Associação Brasileira dos Caminhonei­ros (Abcam) pretende apresentar hoje proposta própria.

“Estamos pedindo reunião com a ANTT para sabermos que tabela é essa”, disse o presidente executivo da Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Carga (Anut), Luis Henrique Teixeira Baldez.

O executivo avaliou que o agronegóci­o vai precisar aceitar uma tabela, nem que seja como solução emergencia­l. “Enquanto o Judiciário não dá sua posição sobre a a MP, temos de tentar mitigar efeitos da tabela no mercado.”

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