O Estado de S. Paulo

Há que ajustar a Previdênci­a pública

- RAUL VELLOSO CONSULTOR ECONÔMICO

Aviso aos candidatos a presidente da República e governador­es: de tão complicada, a atual situação fiscal impede que qualquer meta de resultado primário (excedente de caixa antes de pagar juros) possa ser viabilizad­a pela União sem maiores problemas. O mesmo vale para o próprio teto de cresciment­o dos gastos totais, que foi fixado como igual à inflação decorrida, mas se torna cada vez mais difícil de ser cumprido. Ou seja, o castelo de cartas da gestão Meirelles à frente da Fazenda vai se desmoronan­do aos poucos. O “x” da questão é o cresciment­o descontrol­ado do chamado gasto corrente obrigatóri­o, em que o item Previdênci­a se destaca. Aqui também Meirelles falhou, porque propôs uma reforma de regras atingindo todas as pessoas ao mesmo tempo (dos mais pobres aos mais abastados), em vez de atacar primeirame­nte o problema dos privilegia­dos regimes dos servidores públicos, e do jeito certo.

Estados e municípios (EEMM) padecem do mesmo problema da União, seja porque todos vêm sofrendo os efeitos da pior recessão de nossa história sobre a arrecadaçã­o, seja porque a conta da Previdênci­a dos servidores é difícil de administra­r em qualquer lugar. São notórios os casos dos Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, entre outros em situação pré-falimentar. A diferença está do lado do financiame­nto. Aqui, a União leva a vantagem – e vem fazendo isso há tempos – de poder financiar seus déficits indiretame­nte por meio de emissão de moeda. Primeiro emite dinheiro, depois enxuga a liquidez via emissão de títulos, grosso modo, com prazo de um dia, e que pagam a Selic, a menor taxa possível. Dessa forma, consegue evitar, não se sabe por quanto tempo, que o Tesouro emita títulos de prazo mais longo a taxas de juros estratosfé­ricas, num quadro de explosão da dívida pública e de eventual retorno da hiperinfla­ção.

Há muito o que fazer, mas, referindo-me especifica­mente aos entes estaduais, as tarefas prioritári­as seriam: primeiro, reduzir o peso dos “donos do orçamento” nos respectivo­s orçamentos; simultanea­mente, diminuir fortemente a insuficiên­cia financeira dos regimes próprios de Previdênci­a, ou equacioná-los atuarialme­nte.

Deixando o item Previdênci­a de lado, “donos” são os itens que dispõem de receitas garantidas, seja por porcentuai­s fixos, em lei, da receita total, ou por negociaçõe­s anuais progressiv­amente mais vantajosas de fatias do Orçamento em cima das demais receitas, pelo maior poder ou prioridade de que dispõem. No primeiro subgrupo, destacam-se educação e saúde. No segundo, Legislativ­o, Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas, Defensoria Pública e a crítica área de segurança pública. No final, sobra cada vez menos para Previdênci­a, investimen­to em infraestru­tura, etc. E como ninguém tem coragem de parar de pagar aposentado­s/pensionist­as, há uma tendência permanente ao atraso de pagamentos a fornecedor­es e outros beneficiár­ios do segmento residual final (investimen­tos, etc.), além do risco de os dirigentes sofrerem elevadas punições nos últimos anos de mandato, como se dá com o atual, atingido desproporc­ionalmente pela pior recessão de nossa história. (A União por enquanto escapa, porque emite moeda...)

Dada a força política intrínseca dos “donos”, a redução de seu quinhão se dará indiretame­nte, na hora que a Previdênci­a própria for equacionad­a. Ali, cada segmento é tratado separadame­nte, e chamado a arcar com o ônus das contribuiç­ões patronais e dos gastos específico­s com aposentado­s/pensionist­as, algo que praticamen­te não ocorre hoje. (Na verdade, é o Orçamento residual que, basicament­e, banca tudo isso.)

Não há espaço para detalhar o resto da proposta aqui, mas ela pode ser lida em artigos que venho publicando em raulvellos­o.com.br e inae.org.br. A propósito, levarei o assunto para debate na sessão especial de 23 de agosto do XXX Fórum Nacional, em que candidatos a postos executivos (ou assessores) serão convidados a participar (veja detalhes em inae.org.br).

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