O Estado de S. Paulo

Conselho de administra­ção vai indicar Pedro Parente como presidente da BRF

Gigante em crise. Menos de duas semanas após pedir demissão da Petrobrás, executivo poderá ficar no comando da dona das marcas Sadia e Perdigão; para assumir o cargo, no entanto, precisará de aval de conselho de ética ligado à Presidênci­a da República

- Mônica Scaramuzzo Fernando Scheller / SÃO PAULO Renata Agostini / RIO

O presidente do conselho de administra­ção da BRF, Pedro Parente, ex-Petrobrás, vai ser indicado hoje para assumir o comando da companhia, apurou o ‘Estado’ com pessoas a par do assunto. Uma reunião extraordin­ária do colegiado foi convocada para o meiodia para discutir o tema.

Eleito dia 26 de abril presidente do conselho, em substituiç­ão ao empresário Abilio Diniz, Parente vinha se mostrando reticente em assumir a função de principal executivo da BRF, mas não rechaçava a ideia quando questionad­o diretament­e sobre o assunto.

O presidente do fundo de pensão da Petrobrás (Petros), Walter Mendes, ficou encarregad­o de conversar com Parente para medir sua disposição em aceitar a tarefa, segundo fonte familiariz­ada com as tratativas. A Petros não quis comentar.

Com 11,4% da BRF, a Petros é a maior acionista individual da empresa. É seguida pelo fundo de pensão dos funcionári­os do Banco do Brasil (Previ), que tem 10,7% da companhia de alimentos. Os dois fundos lideraram o processo de destituiçã­o do conselho de administra­ção, presidido por Abilio Diniz, por discordare­m sobre os rumos da maior exportador­a de aves, que registrou prejuízo por dois anos consecutiv­os.

Os fundos veem com bons olhos a chegada de Parente ao comando do negócio. Mas, oficialmen­te, têm insistido que cabe ao conselho de administra­ção avaliar a conveniênc­ia de conduzi-lo ao cargo.

Na reunião convocada para hoje, a expectativ­a é que Parente assuma a presidênci­a da companhia e promova a reestrutur­ação do negócio. Se aceitar o cargo, os conselheir­os vão discutir se Parente acumulará a função de presidente do colegiado. Na prática, ele poderia ficar com as duas funções, segundo pessoas a par do assunto. Procurada, a BRF não comenta o assunto.

Comissão de ética. Antes de assumir o cargo executivo, Parente também terá de anunciar sua decisão ao Conselho de Ética Pública, ligado ao Planalto, uma vez que ele ocupava um cargo público relevante e agora poderá assumir o comando de uma empresa privada. O executivo renunciou ao cargo de presidente da Petrobrás em 1.º de junho. A Coluna do Broad antecipou em maio que ele poderia assumir o comando da BRF.

Desde abril, a companhia está nas mãos de Lorival Luz Jr., que assumiu interiname­nte a gestão após a renúncia de José Aurélio Drummond Jr., após quatro meses no cargo. Desde então, Luz e Parente conversam todos os dias por telefone.

Apoio. Um acionista da BRF afirmou ao Estado que a entrada

de Pedro Parente é a “escolha óbvia” para a empresa neste momento, ainda mais após o executivo deixar o comando da Petrobrás. Segundo ele, a companhia passa por um momento difícil e precisa de uma liderança forte para atravessar esse momento de crise.

Na terça-feira, os fundos de pensão voltaram a manifestar apoio ao executivo na companhia. “Nosso papel era eleger um conselho. Está na mão desse conselho a escolha do CEO. Se esse conselho entender que Pedro Parente é a pessoa, será muito bem-vindo”, afirmou Gueitiro Genso, presidente da Previ, ao Estado.

No vermelho. Os últimos dois anos foram de prejuízo para a BRF. No ano passado, a empresa teve perdas de R$ 1,1 bilhão, quase o triplo da perda registrada em 2016, de R$ 387 milhões. Além de ter enfrentado a Operação Carne Fraca, em 2017, a empresa também sofreu com a ascendênci­a da Seara, da concorrent­e JBS, no terreno de suas marcas Sadia e Perdigão.

Na semana passada, a China anunciou barreiras tarifárias, de até 38% do valor das vendas, ao frango brasileiro. Na terçafeira, a empresa anunciou o fechamento da produção de peru na sua fábrica de Goiás.

As ações da companhias vêm derretendo nos últimos meses. Em 2018, as perdas são de 43,7%. Ontem, o papel da BRF caiu 3,3%, cotado a R$ 20,20.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 31/1/2018 Aposta. Parente: acionistas querem ‘nome forte’ para BRF

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