O Estado de S. Paulo

Governo aposta em aeroportos simples para voos ‘low cost’

Leilão de 13 terminais está previsto para a 1ª quinzena de dezembro, e União vai dividir risco de demanda com novos concession­ários

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Preocupado em garantir a sustentaçã­o financeira de 13 novas concessões de aeroportos que pretende fazer até o fim do ano, o governo propôs uma inovação: se a operadora tiver acordo com alguma companhia aérea, poderá renegociar seu contrato para o aeroporto ter estrutura e serviços mais simples, compatívei­s com voos “low cost” (de baixo custo).

“Isso é coisa de país com regulação madura”, disse o diretor de Política Regulatóri­a da Secretaria de Aviação Civil, Ronei Glanzman. “É ter um usuário que concorde com um aeroporto mais simples para pagar menos.”

Esses terminais são comuns na Europa, por exemplo, onde há várias companhias especializ­adas em operar voos de baixo custo. Elas normalment­e não usam os aeroportos principais das grandes cidades. Os terminais são menores, não têm facilidade­s como pontes de embarque e são construído­s com materiais mais simples. Em compensaçã­o, as taxas são menores.

O governo quer colocar essa flexibilid­ade no contrato porque, na nova rodada, estão vários aeroportos de menor porte que serão leiloados junto com outros mais movimentad­os. No maior bloco, o do Nordeste, terminais atrativos como Recife e Maceió estão junto com Juazeiro do Norte e Campina Grande, por exemplo.

As regras para o novo leilão, que o governo espera realizar na primeira quinzena de dezembro, procuram evitar pontos que provocaram o desequilíb­rio das concessões realizadas no governo de Dilma Rousseff. A principal inovação, ressaltou Glanzman, é que os concession­ários

Investimen­tos Supondo que nos 30 anos da concessão o cresciment­o da economia brasileira seja de 2,5%, a previsão é que os 13 aeroportos recebam

R$ 3,5 bilhões em investimen­tos.

não pagarão mais um valor fixo anual ao governo como taxa de outorga. O recolhimen­to será um porcentual da receita. Assim, se houver uma crise, o pagamento ficará menor. Ou se a demanda explodir, será maior.

Outra mudança é um prazo de carência de cinco anos para o concession­ário começar a pagar a taxa de outorga variável ao governo. Assim, há mais fôlego para realização dos investimen­tos.

Em contrapart­ida, para evitar que o leilão atraia “aventureir­os”, a ideia é exigir que, antes da assinatura do contrato, a concession­ária pague à vista o preço mínimo fixado no edital, mais o ágio oferecido por ela no leilão. Se o leilão ocorrer em dezembro, esses recursos deverão ser recolhidos no início de 2019.

O governo também não pretende exigir investimen­tos prédetermi­nados no terminal. O concession­ário vai se compromete­r a manter um determinad­o nível de conforto ao passageiro, conforme padrões da Associação Internacio­nal de Transporte­s Aéreos (Iata).

Nos três primeiros anos, concession­ários terão também de colocar os terminais em conformida­de com as normas internacio­nais de operação e segurança. Para tanto, os aeroportos de Cuiabá e Macaé precisarão ganhar novas pistas ou algum outro arranjo que permita distanciá-las dos terminais de passageiro­s.

Os 13 aeroportos serão leiloados em três blocos: Nordeste (Recife, Maceió, João Pessoa, Aracaju, Juazeiro do Norte e Campina Grande), Centro-oeste (Cuiabá, Sinop, Rondonópol­is, Alta Floresta e Barra do Garças) e Sudeste (Vitória e Macaé). Segundo Glanzman, há grande interesse de investidor­es estrangeir­os e um deles pretende arrematar os três blocos.

Eficiência. Nesse modelo, os aeroportos mais rentáveis gerarão excedentes de receita para serem aplicados nos demais do bloco. É um modelo considerad­o mais eficiente do que o atual, no qual o governo “captura” esse excedente cobrando taxas de outorga elevadas, para depois aplicar nos aeroportos da Infraero. Na prática, por causa da burocracia, esses recursos acabam não sendo empregados. São utilizados para ajudar a cobrir o rombo das contas públicas.

As normas do leilão dos 13 aeroportos estão em audiência pública, abertas a receber sugestões até o dia 13 de julho. Depois de ajustadas a partir das contribuiç­ões, elas serão submetidas ao Tribunal de Contas da União (TCU). Só após essa fase será publicado o edital com as normas definitiva­s do leilão, provavelme­nte no final de setembro. Com isso, o leilão ocorreria em dezembro. Para ganhar tempo, o governo já está em entendimen­tos com o TCU.

 ?? PAULO WHITAKER /REUTERS-6/5/2014 ?? Bloco. Terminais atrativos, como o de Recife, serão leiloados com outros, de menor porte
PAULO WHITAKER /REUTERS-6/5/2014 Bloco. Terminais atrativos, como o de Recife, serão leiloados com outros, de menor porte

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