O Estado de S. Paulo

Empoderame­nto feminino e realidade

‘Baronesa’ acompanha duas mulheres da periferia de Belo Horizonte que falam sobre o cotidiano ou questões graves, mas mantendo certa leveza

- Luiz Carlos Merten

Houve, na internet, uma tentativa de criar polêmica. A diretora Juliana Antunes, branca de classe média, teria autoridade para falar de mulheres negras da periferia de Belo Horizonte? Houve até quem sustentass­e que o filme dela era a versão feminista (e mais adulta) de A Vizinhança do Tigre, de Affonso Uchoa. Polêmicas à parte, Baronesa, o filme de Juliana, é belíssimo. Venceu a mostra Aurora, de Tiradentes. Foi o primeiro vencedor do Troféu Helena Ignez, atribuído à direção de fotografia de Fernanda de Sena. Quanto a ser mais maduro que A Vizinhança, depende do olhar que se lança sobre os dois filmes. Juliana e Uchoa interagem. Ele montou Baronesa, ela integrou o júri jovem que premiou A Vizinhança.

Baronesa estreia nesta quinta, 14. O filme nasceu como um projeto universitá­rio da diretora. Virou um experiment­o nas margens, híbrido de documentár­io e ficção. Além de Tiradentes, integrou a mostra de cinema independen­te do Rio e o Olhar de Cinema, com curadoria do cineasta Aly Muritiba, de Curitiba. Um filme de mulheres, com mulheres, sobre mulheres – talvez seja a primeira coisa que valha destacar em Baronesa. Em geral, os filmes de periferia privilegia­m o olhar de homens, sobre homens. Juliana filma duas mulheres da Vila Mariquinha­s, em BH. Andreia junta dinheiro para construir uma casa em outra vila – Baronesa –, na expectativ­a de que lá sua vida será mais pacífica. Leidiane cuida sozinha dos filhos. Os homens não estão ausentes porque a dupla flerta com o único sujeito importante da trama. Ele usa tornozelei­ra.

Na maior parte do tempo, Andreia e Leid conversam. Falam sobre sexo – masturbaçã­o, posições que estimulam o orgasmo. Fazem contas sobre o gasto da obra na casa. E brincam com um revólver. Por mais graves que sejam as questões debatidas – estupros, assassinat­os nas favelas –, o filme mantém certa leveza. Consegue ser divertido. O mais importante é o vínculo com o real. Em nenhum momento Juliana falsifica a realidade para dar sua versão do empoderame­nto feminino.

 ?? VITRINE FILMES ?? Baronesa (Brasil/2017, 73 min.)Dir. de Juliana Antunes. Com Andreia Pereira de Sousa, Leidiane Ferreira, Gabriela Souza, Felipe R. dos Santos Esperança. Filme privilegia olhar feminino
VITRINE FILMES Baronesa (Brasil/2017, 73 min.)Dir. de Juliana Antunes. Com Andreia Pereira de Sousa, Leidiane Ferreira, Gabriela Souza, Felipe R. dos Santos Esperança. Filme privilegia olhar feminino

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