O Estado de S. Paulo

Cícero Dias ganha exposição com obras raras no País

Galeria em São Paulo remonta a trajetória do artista pernambuca­no e apresenta uma série inédita de litografia­s

- / P.R.

Um dos principais nomes do modernismo brasileiro, o artista pernambuca­no Cícero Dias volta a ter destaque no mercado com uma exposição organizada pela Simões de Assis Galeria de Arte, em São Paulo, que está aberta ao público. São 40 obras do artista numa retrospect­iva da sua carreira desde os anos 1920 até a década de 1970, quando produziu uma série de litografia­s, que está, na mostra, integralme­nte em exibição pela primeira vez no País.

“Quisemos fazer a exposição com um caráter bem museológic­o”, afirma o curador da mostra, Waldir Simões de Assis, que representa Cícero Dias desde a década de 1980 e escreveu dois livros sobre o artista, além de já ter feito curadoria para outras exposições sobre ele. A mostra segue uma ordem cronológic­a e exemplific­a períodos e passagens do artista por vários estilos.

Nos anos 1920 e 1930, o pintor fez aquarelas com aspectos surrealist­as. Já nos anos 1940, depois de ter se mudado para a Europa, foi um dos primeiros a trabalhar com abstração geométrica, que ganha novas formas até a década de 1960, tudo isso sem deixar de lado, também, a figuração. Nesse período, conviveu com célebres nomes da École de Paris, como Wassily Kandinsky e Pablo Picasso, padrinho da sua única filha, Sylvia. “Apesar de alguns engajament­os, ele nunca foi preso a uma única escola”, explica Assis. “Ele sempre teve um caminhar solo. Foi o primeiro a fazer abstração, mas não se envolveu com movimentos do concretism­o e neoconcret­ismo.”

A exposição conta com cerca de 20 empréstimo­s de colecionad­ores particular­es, e não apenas com obras à venda. Para os interessad­os no trabalho de Dias, porém, uma grande novidade é uma coleção de 25 litografia­s feitas na década de 1970, a partir das suas aquarelas dos anos 1920 e 1930. Originalme­nte, as litografia­s foram produzidas a pedido de uma galeria parisiense que representa­va o artista na França. Com a morte do dono, os trabalhos passaram cerca de 20 anos escondidos do público, até serem adquiridos pela Simões de Assis. Apesar de um pequeno lote já ter sido exposto no Brasil, é a primeira vez que as 25 obras se reúnem integralme­nte numa mostra.

As litografia­s, assim como as aquarelas originais, retratam a principal temática da obra de Dias, morto em 2003, ao longo de toda a vida: as cenas brasileira­s, especialme­nte em Pernambuco, onde nasceu, em 1907, no engenho Jundiá, numa família ligada à produção de açúcar. “Desde pequeno, ele tinha um convívio com escravos libertos e com as raízes africanas”, explica Simões de Assis. Segundo o curador, foi por tratar das “mitologias e raízes nordestina­s” que Dias foi acolhido no modernismo brasileiro, por nomes como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Ismael Nery.

Por conta da importânci­a histórica da mostra, a Simões de Assis estuda a possibilid­ade de prolongar o tempo expositivo, que em galerias geralmente é menor que em museus.

 ?? SERGIO GUERINI ?? Estilo. Aquarelas e pinturas de Dias possuíam aspectos caracterís­ticos do surrealism­o
SERGIO GUERINI Estilo. Aquarelas e pinturas de Dias possuíam aspectos caracterís­ticos do surrealism­o

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil