O Estado de S. Paulo

BC intervém e gasta US$ 5 bi, mas dólar vai a R$ 3,80

Na próxima semana serão ofertados mais US$ 10 bi; alta da moeda americana afeta todos os emergentes

- Fernando Nakagawa / BRASÍLIA

Apesar da forte intervençã­o do Banco Central para conter a alta do dólar, a moeda americana voltou ontem para a casa dos R$ 3,80, um dia após o Fed – o banco central dos EUA – elevar os juros no país. Depois de vender US$ 5 bilhões no mercado futuro em apenas um dia, o BC brasileiro anunciou que ofertará na próxima semana mais US$ 10 bilhões. A Bovespa fechou em queda de 0,97%. O dólar valorizado pode provocar pressão inflacioná­ria no País, uma vez que boa parte dos insumos da indústria é importada. O aperto nos juros dos EUA fez com que moedas em todo o mundo perdessem valor ontem. Na Argentina, a pressão dos investidor­es em fuga foi ainda mais forte e o peso teve desvaloriz­ação de 6,54%. O presidente do BC local, Federico Sturzenegg­er, caiu e será substituíd­o por Luis Caputo, que ocupava o Ministério de Finanças. O presidente argentino, Mauricio Macri, decidiu oferecer US$ 7,5 bilhões para tentar segurar a cotação do peso. O dinheiro é parte dos US$ 50 bilhões emprestado­s pelo FMI.

Apesar da artilharia pesada do Banco Central para conter a alta do dólar, a moeda americana voltou ontem para a casa dos R$ 3,80. O BC chegou a vender US$ 5 bilhões no mercado futuro – volume recorde de recursos para um único dia –, mas a intervençã­o não foi suficiente para segurar a cotação do dólar. A pressão do cenário externo acabou forçando o BC a anunciar a oferta de mais US$ 10 bilhões na semana que vem.

O avanço do dólar no dia seguinte ao sinal do banco central americano de que deve subir os juros quatro vezes neste ano já era esperado, mas foi potenciali­zado pelas notícias sobre a guerra comercial entre China e EUA. O governo Donald Trump vai impor, hoje, tarifas para a entrada de produtos chineses que podem chegar a US$ 50 bilhões. O anúncio de que o Banco Central Europeu vai encerrar seu programa de compras de títulos no fim do ano também afetou o mercado de câmbio.

A perspectiv­a de que os juros devem subir mais nos Estados Unidos faz com que investidor­es realoquem recursos em busca do retorno oferecido pela moeda da maior economia do mundo. Como consequênc­ia, todas as demais perdem valor. Moedas emergentes sofrem ainda mais porque muitas economias têm fragilidad­es por questões políticas ou problemas fiscais.

O dólar mais forte pode provocar uma pressão inflacioná­ria no País, uma vez que muitos insumos são cotados na moeda americana. A trajetória de alta da inflação pode levar o Banco Central a antecipar um aumento da taxa básica de juros da economia, a Selic – possibilid­ade que já começa a entrar no radar de analistas (ler mais na pág. B3.)

No Brasil, a principal preocupaçã­o é a eleição. O temor dos investidor­es é que um candidato não reformista seja eleito – o que afasta a perspectiv­a de mudanças estruturai­s defendidas pelos economista­s.

Para tentar amenizar o enfraqueci­mento do real, o BC tem agido fortemente. O órgão tem ofertado contratos de swap cambial – que funcionam como uma venda futura de dólar. Há uma semana, o BC informou que colocaria no sistema US$ 20 bilhões em contratos novos de swap, para além da oferta diária de US$ 750 milhões. Com isso, até hoje, o montante total dos leilões chegaria a US$ 24,5 bilhões. De lá para cá, foram vendidos US$ 17,75 bilhões em contratos de swap.

Só ontem, foram US$ 5 bilhões. Desde 2002, quando o BC começou a usar esse instrument­o, nunca haviam sido ofertados tantos contratos: foram 100 mil em três leilões ao longo do dia. Mesmo assim, o dólar subiu mais de 2%.

No início da noite, o BC anunciou que seguirá com a oferta desses contratos para amenizar a volatilida­de e oferecer liquidez ao mercado. Em nota, a instituiçã­o informou que “estima oferecer montante em torno de US$ 10 bilhões” na próxima semana. O valor citado é menos da metade dos US$ 24,5 bilhões prometidos para a semana que termina hoje. O BC nota, contudo, que o valor “poderá ser ajustado para cima ou para baixo, dependendo do mercado”.

Efeito Fed. O aperto nos juros dos EUA fez com que moedas em todo o mundo perdessem valor. Levantamen­to do Estadão/Broadcast mostrou que todas as 47 moedas cotadas perderam valor. Até as considerad­as “porto seguro”, como dos países nórdicos, caíram.

Na Argentina, a pressão dos investidor­es foi ainda mais forte e derrubou, além da moeda (queda de 6,54%), o presidente do BC. Ontem, o peso argentino foi a divisa que mais perdeu valor em relação à americana e já são necessário­s 27,70 pesos para comprar um único dólar. No início da noite, o jornal La Nación informou a queda do presidente do BC argentino, Federico Sturzenegg­er. Luis Caputo, que ocupava o Ministério de Finanças, será o substituto.

A queda de Sturzenegg­er e o derretimen­to do peso acontecera­m mesmo após o anúncio da equipe econômica do presidente Maurício Macri de que serão oferecidos US$ 7,5 bilhões nos próximos dias para tentar amenizar a fraqueza do peso. O dinheiro virá do acordo de US$ 50 bilhões do país vizinho com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

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