O Estado de S. Paulo

Aumento de juros entra no radar

Entre 49 instituiçõ­es, cinco já consideram que a Selic vai chegar ao fim do ano acima de 6,50%; no mês passado nenhuma previa alteração

- Thaís Barcellos

Cinco de 49 analistas financeiro­s ouvidos pelo Projeções Broadcast acreditam que a Selic chegará ao fim do ano acima dos atuais 6,50%. Em levantamen­to anterior, ninguém apostava em alta.

Apressão do cenário externo e as incertezas coma eleição levaram os analistas a rever suas expectativ­as em relação à Selic, a taxa básica de juros da economia. Uma pesquisa do Projeções Broadcast com profission­ais do mercado financeiro mostra que cinco deles, de um total de 49, preveem que a taxa vai chegar ao fim do ano acima dos atuais 6,50%. No levantamen­to anterior, feito em maio, após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nenhuma instituiçã­o previa alta dos juros neste ano.

Mesmo entre os economista­s que acreditam em manutenção da Selic em 2018, alguns admitem que o cenário ficou mais arriscado com o novo nível do câmbio – que ontem fechou em R$ 3,80, apesar das intervençõ­es do Banco Central – ea forte volatilida­de dos mercados, que passa também pelo aumento dos riscos fiscal e eleitoral no Brasil.

Nos contratos de juros futuros, desde a semana passada, a aposta é de que o ciclo de aperto monetário começa já na próxima reunião do Copom, nos dias 19 e 20 deste mês. Ontem à tarde, 60% dos contratos embutiam a possibilid­ade de o BC elevar a Selic para 7% ao ano na semana que vem e outros 40% apostavam em 6,75% ao ano.

Entre os analistas, no entanto, embora haja divergênci­as sobre como estará a taxa de juros em dezembro, existe um consenso de que ela será mantida na próxima reunião. “Esperamos que o Copom mantenha a Selic em 6,50% na reunião da próxima semana e indique que, talvez, enxergue algum risco de convergênc­ia da inflação para a meta em 2019”, diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que ainda espera que o juro termine o ano no mesmo patamar.

Sobre a diferença de cenários do mercado futuro de juros e dos analistas, o economista Luiz Castelli, da GO Associados diz que a falha da comunicaçã­o do BC pode ter contribuíd­o com esse comportame­nto do mercado. Segundo ele, na reunião do Copom do mês passado, a taxa ficou inalterada, quando, para a maioria do mercado, a instituiçã­o havia sinalizado queda para 6,25%. “Isso gera mais ruído e amplia o leque de opções.”

Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, nem mesmo a indicação de anteontem de que o banco central americano (Fed) vai elevar os juros quatro vezes este ano muda a percepção de que a Selic será mantida – apesar de a sinalizaçã­o aumentar a pressão sobre o câmbio. Segundo ela, a sinalizaçã­o do Fed não foi “nenhuma surpresa” dado o desempenho da economia norte-americana.

“Mas é inegável que aumentaram os riscos de aperto do juros este ano por causa do novo nível do dólar e da incerteza sobre as perspectiv­as fiscais. Tudo isso tem impacto direto da inflação”, admite o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Alguns analistas enfatizam que a comunicaçã­o dada até o momento pelo Banco Central é de que a política monetária não será atrelada ao câmbio.

Levantamen­to. Na pesquisa do Projeções Broadcast, entre as cinco instituiçõ­es que preveem antecipaçã­o do processo de aperto monetário para este ano, apenas uma acredita que isso ocorrerá antes das eleições. As previsões vão de 6,50% a 8,50%. No levantamen­to anterior, feito após o Copom de maio, 33 previam elevação em algum momento de 2019 e duas instituiçõ­es acreditava­m que o juro permanecer­ia no nível atual de 6,50% até o fim do ano que vem.

Ao Estadão /Broadcast, no último dia 11, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou que a decisão será tomada “no dia da reunião, olhando todas as condições”. Ele disse que vai seguir monitorand­o a inflação, as expectativ­as para os índices de preços e o balanço de riscos para decidir sobre a Selic. O último comunicado da decisão diz que “para as próximas reuniões, o Comitê vê como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente”.

“Esperamos que o Copom mantenha a Selic em 6,5% e, talvez, enxergue algum risco de convergênc­ia da inflação para meta em 2019.”

José Francisco de L. Gonçalves ECONOMISTA-CHEFE DO BANCO FATOR

“A falha de comunicaçã­o do BC pode ter contribuíd­o para a reação do mercado.” Luiz Castelli

ECONOMISTA DA GO ASSOCIADOS

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