O Estado de S. Paulo

PF aponta propina de R$ 57,3 mi no Rodoanel de SP

Relatório da Polícia Federal diz que operador do MDB cobrou R$ 57 mi para liberar empréstimo na Caixa na construção do trecho leste

- Fábio Leite Fabio Serapião / BRASÍLIA

A PF apontou no relatório final da Operação Cui Bono que o Grupo Bertin pagou R$ 57,3 milhões em propina ao doleiro Lúcio Funaro para obter empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa para a construção do Trecho Leste do Rodoanel, em SP. A obra foi executada entre 2011 e 2015 pela SPMar, concession­ária de rodovias do grupo.

A Polícia Federal apontou em seu relatório final da Operação Cui Bono? que o Grupo Bertin pagou R$ 57,3 milhões em propina ao doleiro Lúcio Funaro entre 2013 e 2015 para obter empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal para construir o trecho leste do Rodoanel, em São Paulo. Funaro é apontado como operador político do MDB da Câmara e, segundo a PF, teria dividido o dinheiro com o deputado federal cassado Eduardo Cunha e com o vice-presidente do banco à época Geddel Vieira Lima. Ambos estão presos.

Segundo a PF, o trio agiu para facilitar a liberação de recursos da Caixa para a SPMar, concession­ária de rodovias do Grupo Bertin responsáve­l pela construção do trecho leste e administra­ção do trecho sul do Rodoanel. A obra foi iniciada em 2011 e concluída em 2015. A partir da colaboraçã­o premiada de Funaro, a PF obteve planilhas e notas fiscais que indicam 63 transações feitas pela Contern, construtor­a da Bertin que executou a obra, para duas empresas do doleiro entre 2013 e 2015.

O histórico de pagamentos mostra que o Grupo Bertin pagou para Funaro até 2,9% sobre cada valor liberado pela Caixa à SPMar. No dia 28 de março de 2013, por exemplo, foram liberados R$ 340 milhões para a concession­ária, que teria pago comissão de R$ 8,16 milhões ao doleiro. Segundo Funaro, ele ficava com 20% do valor, enquanto que 50% era repassado para Geddel e 30% para Cunha.

Deflagrada em janeiro de 2017, a Cui Bono investigou irregulari­dades cometidas na vicepresid­ência de Pessoa Jurídica da Caixa entre 2011 e 2013, período em que foi comandada por Geddel. A investigaç­ão teve origem na análise de conversas registrada­s em um celular apreendido na casa de Cunha e foi concluída neste mês com 16 pessoas indiciadas por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, organizaçã­o criminosa e obstrução de Justiça. Entre os indiciados estão os irmãos e sócios do Grupo Bertin, Natalino, Reinaldo e Silmar Bertin.

Em 2016, a força-tarefa da Lava Jato já havia identifica­do pagamentos de R$ 6,2 milhões da SPMar para uma empresa do operador Adir Assad, acusado de lavar dinheiro em obras de São Paulo. O caso é investigad­o pelo Ministério Público Estadual. Além do trecho leste, também são alvos da Lava Jato as obras dos trechos sul e norte do Rodoanel, nas quais empreiteir­as denunciara­m pagamentos a agentes públicos, como os ex-diretores da Dersa Paulo Vieira de Souza e Mário Rodrigues Júnior, e políticos do PSDB.

Defesa. Em nota, a concession­ária SPMar afirmou que “as empresas da família Bertin só poderão se manifestar após conhecer, de fato, o teor do referido relatório da Polícia Federal” e que “se mantêm à disposição das autoridade­s para prestar eventuais esclarecim­entos”.

Já a Caixa afirmou que as denúncias “são objeto de apurações internas que correm sob sigilo”. O banco também afirmou que “está em contato permanente com as autoridade­s, prestando irrestrita colaboraçã­o com as investigaç­ões”.

A Agência Reguladora de Transporte­s de São Paulo (Artesp), que fiscaliza as concessões rodoviária­s, afirmou que “a SPMar vem cumprindo com suas obrigações contratuai­s” e que “a obtenção dos recursos para realizar seus investimen­tos e compromiss­os é de competênci­a das concession­árias junto aos seus investidor­es e financiado­res não havendo participaç­ão da Artesp nesse processo”.

A defesa de Funaro informou que ele “continuará colaborand­o de modo efetivo com as autoridade­s”. As defesas de Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima não se manifestar­am.

 ?? MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO -25/6/2015 ?? Investigaç­ão. Trecho sul do Rodoanel, construído entre 2011 e 2015 em São Paulo, é citado em relatório final da Operação Cui Bono? da Polícia Federal
MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO -25/6/2015 Investigaç­ão. Trecho sul do Rodoanel, construído entre 2011 e 2015 em São Paulo, é citado em relatório final da Operação Cui Bono? da Polícia Federal

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