O Estado de S. Paulo

Campanha contra feminicídi­os deu força ao debate

- / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO Daniel Politi / NYT

Se os defensores da legalizaçã­o do aborto tiverem sucesso, a Argentina se tornará o país mais populoso da América Latina a permitir que as mulheres interrompa­m a gravidez – um marco em uma região onde as leis rigorosas contra aborto são a norma. A aprovação de um projeto de lei de aborto na Câmara é encarada como uma consequênc­ia direta de um movimento mais amplo de direitos das mulheres no país que começou em 2015 com uma campanha contra os feminicídi­os chamada Nem uma menos. Centenas de milhares de mulheres foram às ruas nos últimos anos para aumentar a conscienti­zação sobre a violência doméstica e pressionar por leis mais fortes para proteger as mulheres.

A perspectiv­a de legalizaçã­o se tornou politicame­nte mais plausível no início deste ano, quando o presidente Mauricio Macri, que se opõe à legalizaçã­o do aborto, liberou os parlamenta­res aliados para “votar com sua consciênci­a” sobre o assunto. O aumento do ativismo entre as mulheres do país encorajou algumas legislador­as que apoiam a legalizaçã­o do aborto a unir forças.

Vários países da América Latina permitem o aborto em circunstân­cias limitadas, como em caso de estupro ou quando a vida da mãe está ameaçada. A Argentina se tornaria a quarta nação da região a permitir o aborto sem tais restrições – se o procedimen­to for legalizado, se juntará a Cuba, Uruguai, Guiana e algumas partes do México.

As complicaçõ­es dos abortos clandestin­os respondem por 18% das mortes maternas no país, tornando-se sua principal causa. Em 2015 e 2016, pelo menos 98 mulheres morreram como resultado de abortos mal feitos.

O apoio à legalizaçã­o do aborto parece ter crescido na Argentina nos últimos anos, ao mesmo tempo que a Igreja Católica foi perdendo influência. Uma pesquisa de 2006 do Centro para o Estudo do Estado e Sociedade mostrou que 37% dos argentinos disseram que as mulheres deveriam ter permissão para fazer um aborto, independen­temente do motivo, um número que aumentou para 49% em uma pesquisa sem fins lucrativos realizada em março.

Tais números e o aumento na influência do movimento pelos direitos ao aborto provavelme­nte levaram Macri a assumir o que equivale a uma posição neutra, à medida que o Congresso realiza o debate.

Líderes da Igreja têm sido veementes em sua oposição ao projeto de lei, e eles recentemen­te argumentar­am que melhorar a educação sexual nas escolas é uma estratégia melhor para lidar com a gravidez indesejada.

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