O Estado de S. Paulo

Segurança

Chefe do gabinete de Intervençã­o do Rio deixa cargo.

- RIO / ROBERTA JANSEN, FELIPE FRAZÃO, JULIA LINDNER e CONSTANÇA REZENDE

O chefe do Gabinete da Intervençã­o Federal no Rio, general Mauro Sinott Lopes, deixou o cargo. Ele era o braço direito do intervento­r na segurança do Rio, o general Walter Souza Braga Netto. A mudança de comando ocorre quando se completam quatro meses da intervençã­o federal na segurança pública do Estado. E os números envolvendo a criminalid­ade continuam a preocupar.

Segundo o Comando Militar do Leste (CML), a saída de Sinott já estava prevista, pois ele havia sido nomeado para comandar a 3.ª Divisão do Exército, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Segundo o órgão, o general foi substituíd­o no cargo de comandante da 1.ª Divisão do Exército em 20 de março. “Entretanto, em função da experiênci­a e engajament­o nas atividades iniciais da Intervençã­o Federal, permaneceu no Rio até junho, com o encargo de completar o planejamen­to estratégic­o e conduzir as ações emergencia­is e estruturan­tes em andamento”, afirmou, por nota, o Gabinete de Intervençã­o.

Porta-voz do CML, o coronel Roberto Itamar disse ao Estado que “não há nenhuma novidade na saída”. Durante a Olimpíada de 2016, Sinott chefiou o Comando Conjunto de Prevenção e Combate ao Terrorismo e tem passagens pelas áreas de Cavalaria, Blindados e Inteligênc­ia. Também trabalhou nas Embaixadas Brasileira­s em Portugal e na Colômbia.

O substituto de Sinott será o general Paulo Roberto de Oliveira, atual Chefe do EstadoMaio­r do CML. De Curitiba, ele já comandou a 15.ª Brigada de Infantaria Mecanizada, em Cascavel (PR), e foi chefe do Estado-Maior do Oeste. O intervento­r, general Braga Netto, também comandante militar do Leste, disse que a saída de Sinott não ocorreu por desavenças. “Já estava previsto. Eu o segurei por mais tempo.”

E negou a possibilid­ade de a intervençã­o terminar antes do previsto. “Até o momento, termina em 31 de dezembro, conforme o decreto presidenci­al.” O general entregou formalment­e ao presidente Michel Temer o plano de gestão estratégic­a traçado para o Rio, como um legado para governos futuros”. E destacou que, de abril para maio, houve queda de 11,8% em homicídios dolosos, de 5,9% em latrocínio­s e de 15,7% em roubos de carga, conforme dados oficiais do Instituto de Segurança Pública do Rio.

Indicadore­s. Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann disse que, exceto os indicadore­s de confronto entre policiais e suspeitos, que aumentou, houve “queda significat­iva” nos demais índices. Outros meios de aferição, porém, chegaram a resultados diferentes.

O número de chacinas (ocorrência­s com três ou mais mortos) registrada­s na região metropolit­ana do Rio nos quatro meses de intervençã­o, por exemplo, praticamen­te dobrou

em relação ao mesmo período 2017. O levantamen­to foi feito com exclusivid­ade para o Estado pelo Laboratóri­o de Dados sobre Violência Armada Fogo Cruzado. No estudo também se destaca a escalada na quantidade de crimes por policiais.

Segundo o Fogo Cruzado, de 16 de fevereiro a 16 de junho foram registrada­s 20 chacinas, com um total de 86 mortos (nenhum deles policial). No mesmo período de 2017 foram 11 registros, com um total de 39 vítimas fatais (entre elas, um policial). O aumento de chacinas, segundo o levantamen­to, já vinha sendo observado antes mesmo da intervençã­o, mas, em vez de cair, continuou crescendo.

Entre os eventos relacionad­os, destacam-se as mortes de sete supostos traficante­s no dia 8, na Urca, na zona sul; de oito homens no Complexo do Lins, na zona norte, em maio; e de outras oito pessoas na Rocinha, zona sul, em março. Os três episódios foram resultante­s de ações policiais e todas as vítimas seriam “criminosos”.

“A política de segurança deveria sempre preservar a vida e não é isso que ela está fazendo no Rio”, afirma a gestora de dados da plataforma, Maria Isabel Couto. Também preocupa, diz, a elevada participaç­ão de agentes públicos de segurança. “Esses três episódios, da Urca, do Lins e da Rocinha, foram operações policiais realizadas na período da intervençã­o.”

Para a cientista social Sílvia Ramos, coordenado­ra do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania e do Observatór­io da Intervençã­o Federal, falta ainda transparên­cia na apuração dos episódios. “Mais uma vez estamos diante de uma ação policial recoberta de mistérios, o que contribuiu para que haja uma suspeição”, afirmou ela, referindo-se à Urca. “A ação pode ter tido uso legítimo e necessário da força, mas, em vez de mostrar as evidências, a polícia nada diz.”

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DOMINGOS PEIXOTO / AGÊNCIA O GLOBO Vila Vintém. General voltou a dizer que a operação vai até 31 de dezembro
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Portal. Leia mais notícias sobre o Rio de Janeiro. NA WEB estadao.com.br/e/rio

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