O Estado de S. Paulo

Cartas no esgoto deram base à investigaç­ão

Telas na rede de coleta da cadeia foram usadas para reter mensagens de presos para colegas em liberdade

- /B.R.

A investigaç­ão que terminou com a Operação Echelon, deflagrada ontem contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), partiu de uma “pescaria” feita nos dutos de esgoto das raias da Penitenciá­ria 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista.

Em março do ano passado, o setor de inteligênc­ia da Secretaria da Administra­ção Penitenciá­ria (SAP) simulou um problema em um dos dutos de esgoto da cadeia, que mantém presos os líderes da organizaçã­o criminosa. Era um problema falso. “No lugar de reparar o esgoto, instalamos telas nos dutos”, explicou o secretário da SAP, Lourival Gomes.

As redes serviriam para reter cartas que os presos picavam e jogavam pelo esgoto em dias de revistas nas celas. Essas cartas continham os “salves”, as orientaçõe­s para os membros do PCC em liberdade.

As ordens de execução de rivais e agentes públicos têm de ser escritas, segundo regras internas da facção. “Sempre que fazíamos uma operação, eles jogavam as cartas”, disse Gomes.

Após recolher e limpar os papéis picados encontrado­s em meio ao esgoto, os agentes separaram o material por cor de caneta – havia correspond­ências escritas em verde, em preto e em vermelho – e, depois, com a ajuda de peritos, por letra do autor. Em uma terceira etapa, essas letras foram comparadas com os documentos da própria SAP assinados pelos internos. Foi assim que se chegou aos sete homens acusados de liderar a expansão do PCC para o restante do Brasil.

Ethos. A coleta dos papéis picados no esgoto começou a ser pensada depois de outra operação contra o PCC, a Ethos, deflagrada em novembro de 2016, que também visava a cortar as comunicaçõ­es da cúpula do PCC com os criminosos na ruas. Naquela ação, os alvos principais foram advogados que faziam o “pombo-correio”, levando notícias de um preso para outro ou para membros da facção fora dos presídios. Esses advogados ficaram conhecidos como a “sintonia dos gravatas”. As provas coletadas na operação Ethos renderam, no começo deste ano, nova condenação por organizaçã­o criminosa a Marcos Willians Camacho, o Marcola, líder do PCC.

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VALERIA GONÇALVES/ESTADÃO Estratégia. ‘Simulamos um problema’, diz Gomes (à dir.)

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