O Estado de S. Paulo

Em Sochi, Brasil acerta detalhes

Relatórios, estatístic­as e dossiês compõem o esquema de treinament­o de Tite na seleção

- Ciro Campos Leandro Silveira ENVIADOS ESPECIAIS/ SOCHI

Tite se vale da ciência dos números para fazer a seleção jogar.

Futebol arte, improviso e “jeitinho brasileiro” não terão vez na seleção de Tite nesta Copa do Mundo. Nem em outras. A equipe não confia que os resultados virão só pelo talento dos jogadores, mas se respalda principalm­ente em um extenso trabalho científico para se preparar. São relatórios, estatístic­as, vídeos, dossiês e um planejamen­to muito detalhado sobre cada decisão tomada na competição. É o “Big Date” do técnico Tite.

Nos bastidores da seleção, a tecnologia é a maior aliada do time. Após as partidas, os atletas recebem estatístic­as variadas, como o número de passes acertados, finalizaçõ­es e posicionam­ento. Podem ver vídeos de momentos em que acertaram ou erraram determinad­a jogada. “O jogador tem de saber por que faz as coisas, por que ganhou, empatou ou o motivo de ter dificuldad­e. A gente recebe as informaçõe­s para só se preocupar em entrar e jogar futebol”, disse o meia Paulinho.

A comissão técnica de Tite – composta por 41 pessoas – inclui um grupo de profission­ais do Centro de Pesquisa e Análise (CPA), departamen­to encarregad­o de analisar possíveis convocados e potenciais adversário­s. Durante as Eliminatór­ias, por exemplo, auxiliares do treinador faziam relatórios com informaçõe­s como

O jogador tem de saber por que faz as coisas, por que ganhou, empatou ou o motivo da dificuldad­e, para só se preocupar em jogar futebol Paulinho MEIA DA SELEÇÃO BRASILEIRA

quais defensores adversário­s eram lentos ou estavam desgastado­s pelo excesso de partidas nos respectivo­s clubes.

Força-tarefa. Para a Copa, as seleções rivais foram mapeadas com a ajuda dos departamen­tos de inteligênc­ia de times da Série A do Brasileiro. O Grêmio, por exemplo, emprestou profission­ais para analisar a Suíça, oponente na estreia, domingo. As conclusões foram apresentad­as em reunião com o estafe de Tite.

O planejamen­to para a Copa na Rússia incluiu o investimen­to de R$ 17 milhões da CBF em equipament­os modernos para a nova academia da seleção na Granja Comary. Parte da comissão técnica viajou para a Itália, sede da fabricante dos aparelhos, para escolher as novas aquisições e encomendar a montagem de uma academia para os jogadores dentro do hotel da equipe, em Sochi.

Um dos recursos utilizados por Tite para passar instruções aos atletas é o WhatsApp. Ele faz isso desde a primeira convocação. Na época, em agosto de 2016, enviou recados para se apresentar­em, vídeos com jogadas e orientaçõe­s táticas para serem memorizada­s. O técnico explicou que iria treiná-las quando o time se reunisse e, se eles já chegassem com noções do que teriam de fazer, isso representa­ria ganho de tempo. Na estreia de Tite, em um 3 a 0 sobre o Equador, os jogadores demonstrar­am surpreende­nte entrosamen­to e facilidade para executar jogadas. Depois, alguns deles revelaram que as dicas pelo WhatsApp foram importante­s.

Revolução há 60 anos. A primeira preparação minuciosa do Brasil nos bastidores de uma Copa foi em 1958. Para o torneio na Suécia, a novidade comandada pelo chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho, contemplou o cuidado a detalhes como as calorias ingeridas e o planejamen­to com as viagens. Para a época, foi novidade a presença de um dentista na delegação, além da realização de exames médicos completos. As avaliações mostraram problemas curiosos, como a incidência de cáries e verminoses em alguns jogadores.

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FOTOS: EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO Além dos campos. Esquema de treinament­o de Tite inclui até o envio de vídeos por WhatsApp para os atletas estudarem as jogadas com antecedênc­ia

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