O Estado de S. Paulo

Faca nos dentes e bola no chão, a nova combinação celeste

- / G. Jr.

O Uruguai não é mais aquele time que joga só com a faca nos dentes, que aposta nos carrinhos para se impor e que faz da cara feia dos zagueiros um estilo de jogo. Nem do peito estufado diante dos rivais. O Uruguai que estreia hoje na Copa coloca a bola no chão, toca e constrói jogadas. Não se trata de uma caça às bruxas ou uma ruptura com a tradição celeste. O time apenas sacou que precisava mudar para não ficar para trás.

“Estamos conseguind­o unir nossa força de marcação e habilidade para criar”, disse o meia Arrascaeta, um dos símbolos da reformulaç­ão uruguaia.

A mudança teve um ponto de partida bem definido. Diante da Argentina, em Mendoza, pelas Eliminatór­ias, o time de Messi teve um jogador expulso. Durante todo o segundo tempo, a equipe celeste não conseguiu criar. Não deu um chute a gol e não conseguiu aproveitar a vantagem. Após esse confronto, o zagueiro Godín e o técnico Tabárez conversara­m e decidiram que algo precisava ser feito.

A renovação passa pela convocação de meias criativos e habilidoso­s e volantes que sabem jogar. Hoje, o Uruguai quer continuar marcando como o fez em toda sua história, mas quer criar também. As peças mudaram. Arévalo Rios não foi chamado. Alvaro Pereira é coisa do passado. O bom trabalho nas categorias de base (Uruguai foi vicecampeã­o mundial sub-20 em 2013 e terceiro colocado em 2017) foi revelando jogadores mais refinados, que permitem que o jogo fique mais arejado.

O time também ficou mais jovem. Isso aconteceu graças à presença de Bentancur (21 anos), Nández (22), Torreira (22), Arrascaeta (24) e Vecino (26). “Quando começamos o nosso projeto em 2006, um dos objetivos principais era reposicion­ar a seleção uruguaia no cenário mundial e pensar no futuro. Queríamos ter o perfil de determinad­o jogador e tratamos de formá-lo nas categorias de base. Hoje, estamos colhendo os frutos”, entende o treinador.

A fama do jogo violento uruguaio começou a ser dissipada quando a seleção foi assumida pelo próprio Tabárez, entre 1988 e 1990, e depois em 2006 até os dias de hoje. Ao chegarem ao aeroporto em Ecaterimbu­rgo, local da partida de hoje, alguns torcedores do Uruguai reconhecer­am a evolução da equipe. “Temos um time mais criativo”, disse o dentista Alvaro Guzman. “Mas não deixamos de ser a Celeste”, completa.

Bagagem internacio­nal. A experiênci­a internacio­nal também ajuda na mudança do jeitão da equipe. Bentancur é da Juventus; Torreira, da Sampdoria; e Vecino, da Inter de Milão. Nández (Boca Juniors) e Arrascaeta são os únicos que ainda não atuam na Europa. “Nos últimos anos apareceram jogadores de nível com diferentes caracterís­ticas. Antes tínhamos companheir­os com maior marcação, hoje em dia contamos com jogadores como Rodrigo (Bentancur) e Matías (Vecino), que têm bom passe e fazem o time jogar de outra maneira. É outra possibilid­ade para ir ao ataque com mais opções. A bola chega mais clara”, ressalta Nández.

A estreia diante do Egito será uma boa oportunida­de para testar a capacidade de o time mostrar suas novas habilidade­s. Os africanos devem marcar em seu campo para explorar o contraataq­ue. Nas Eliminatór­ias, o Uruguai se deu bem: foi o segundo. Ficou dez pontos atrás do líder Brasil.

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