O Estado de S. Paulo

Líderes globais ignoram a abertura

- Jamil Chade

Ovacionado como herói no estádio Luzhniki, em Moscou, o presidente da Rússia foi solenement­e ignorado pelos principais líderes mundiais, que não aceitaram o convite para participar da festa de abertura da Copa do Mundo. Nem o secretário-geral da ONU, António Guterres, presença constante em eventos globais e importante­s, foi à Rússia.

Na ala VIP do estádio, apenas os nanicos do futebol apareceram, no esforço de Putin para mostrar ao mundo que ele não está isolado. Numa abertura marcada pela mistura de cultura pop mundial e tradição russa, o Kremlin tinha como objetivo mostrar em dimensão mundial que o embargo internacio­nal levantado pelos Estados Unidos não o afetava.

Os únicos chefes de Estado ocidentais que comparecer­am foram osp residentes Hora cio Cartes, do Paraguai, Juan Carlos Varela, do Panamá, e Evo Morales, da Bolívia. O governo brasileiro enviou apenas o ministro dos Esportes, Leandro Cruz. A maioria dos convidados que foi a Moscou era do ex-bloco soviético – como os presidente­s do Azerbaijão, Bielo-Rússia e Casaquistã­o. A festa com Putin ainda contou com o norte-coreano Kim Yongnam, presidente do Parlamento, órgão sem poder no país.

Os convidados de Putin puderam degustar salmão, ostras e camarões, tudo regado a champanhe. O Estado entrou na ala VIP do estádio e constatou que, duas horas depois do fim do jogo, dezenas de dirigentes continuava­m desfrutand­o das regalias.

Mas a grande estrela entre os convidados era o príncipe da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman Al Saud. A TV oficial mostrava o saudita e Putin a cada gol da Rússia. No primeiro, ele apertou a mão do anfitrião. No terceiro, ele já dava sinais de desistir.

Ao Estado, o vice-primeiromi­nistro Vitaly Mutko comemorou o jogo de abertura. “Foi um show”, disse. Para ele, a presença das autoridade­s estrangeir­as era uma “prova que a tentativa de boicote não funcionou”. Governos europeus não enviaram seus representa­ntes alegando que não dariam a oportunida­de para Putin usar a Copa para se promover em meio a uma tensão internacio­nal.

Vivendo sob quatro anos de embargos internacio­nais, Putin, em seu discurso de abertura, desejou que o torneio seja para “criar novos amigos e compartilh­ar valores”, numa mensagem interpreta­da como um recado político. “O futebol nos une, apesar das diferentes tradições.”

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