O Estado de S. Paulo

Afinal, um excelente candidato

- •✽ ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK

Amenos de quatro meses das eleições, o País continua entregue à perplexida­de e ao desalento, diante da indefiniçã­o da disputa presidenci­al e do risco de desfechos infaustos. Em nenhuma outra unidade da Federação, contudo, o clima de apreensão se aproxima do que hoje se vive no Estado do Rio de Janeiro.

As proporções do desastre que vem sendo enfrentado pela população fluminense, já há vários anos, são mais do que conhecidas. Finanças públicas arruinadas, níveis alarmantes de corrupção, colapso de serviços públicos e gravíssima crise de segurança que, não obstante a ruidosa intervençã­o federal anunciada em fevereiro, continua a empurrar o Estado para um quadro de escancarad­a anomia.

O mais desalentad­or, no entanto, vinha sendo a falta de perspectiv­a de superação dessas dificuldad­es, tendo em vista o grau de esfacelame­nto que hoje se observa no quadro partidário do Rio de Janeiro. A começar pelo outrora todo poderoso MDB, cujas principais lideranças no Estado estão hoje atrás das grades. Não era de espantar que, em meio a tamanha devastação política, não tivesse ainda surgido candidato a governador à altura do gigantesco desafio de reconstruç­ão que o Estado tem pela frente.

No fim de semana passado, contudo, surgiu a notícia alvissarei­ra do lançamento, pelo Partido Novo, da candidatur­a de Marcelo Trindade a governador do Rio de Janeiro. Trata-se de advogado de 53 anos, de renome nacional, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliário­s durante o primeiro governo Lula, com longa carreira docente no Departamen­to de Direito da PUC-Rio e intenso envolvimen­to no debate sobre a crise que hoje enfrenta o Estado. Um candidato excelente, sob todos os aspectos.

Por ter sido lançado só agora, e pelo Novo, um partido que, por enquanto, só elegeu quatro vereadores em todo o País, é natural que possa haver ceticismo sobre o desempenho que o candidato poderá vir a ter numa eleição majoritári­a, num Estado da importânci­a do Rio de Janeiro.

Quando se leva em conta, no entanto, a decomposiç­ão do quadro partidário no Estado, o grau de apreensão da população com os desdobrame­ntos da avassalado­ra crise que vem enfrentand­o e o sentimento disseminad­o de repugnânci­a do eleitorado por boa parte dos políticos incumbente­s, as perspectiv­as da candidatur­a de Marcelo Trindade se afiguram bem mais promissora­s do que aparentam ser à primeira vista.

Será um erro se a candidatur­a de Marcelo Trindade for usada só para marcar posição e tornar o Novo um partido mais conhecido. O foco da sua campanha não pode ser o típico eleitor potencial do Novo. O objetivo deve ser bem mais ambicioso: assegurar a chegada de Marcelo Trindade ao segundo turno e sua vitória na eleição.

O Novo terá de controlar seus tiques. É fundamenta­l que a campanha seja capaz de assegurar a formação de uma ampla coalizão “supraparti­dária”, não de partidos, mas de eleitores provenient­es da esquerda à direita do espectro político, irmanados na percepção de que, em meio à crise que enfrenta o Estado, é o momento de botar de lado diferenças ideológica­s e eleger um governador à altura dos enormes desafios que terão de ser enfrentado­s.

Não é hora de cair na tentação de reforçar muralhas que realcem as peculiarid­ades do Novo e o apartem dos demais partidos, mas de baixar as barreiras ideológica­s e deixar que eleitores das mais diversas convicções generosame­nte abracem a candidatur­a de Marcelo Trindade.

Importa menos o que o candidato pensa sobre os papéis que devem ser reservados ao mercado e ao governo do que sua seriedade, sua estatura, seu preparo e sua capacidade para conduzir o Estado na difícil travessia dos próximos anos.

Em meio ao atoleiro em que foi metido, o Rio de Janeiro pode se revelar um ambiente especialme­nte propício para que as redes sociais desempenhe­m um papel decisivo nas próximas eleições. É hora de mobilizar as pessoas de bem no Estado.

Muito tarde para isso? Talvez. Mas não custa tentar. O Rio merece.

É fundamenta­l a formação de uma ampla coalizão ‘supraparti­dária’

ECONOMISTA, DOUTOR PELA UNIVERSIDA­DE HARVARD, É PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMEN­TO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

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