O Estado de S. Paulo

‘Quase nada mudou desde que os brasileiro­s foram às ruas em 2013’

- Márcia De Chiara

Cinco anos depois de os brasileiro­s terem saído às ruas clamando por mudanças quase nada mudou, na avaliação do economista Roberto Luis Troster. A greve dos caminhonei­ros que parou o País reforça, segundo ele, que o desejo por mudanças se mantém.

Os manifestan­tes que saíram às ruas para mudar o País em 2013 inspiraram Troster a escrever o livro intitulado O bê-á-bá da política econômica no Brasil em 2018. Lançado em abril, o livro é uma espécie de manual para os eleitores votarem com mais conhecimen­to das questões econômicas. “O livro expira o dia 28 de outubro (dia da votação do 2.º turno) porque é para as pessoas votarem bem”, diz Troster, doutor em Economia pela USP e, por mais de uma década, economista-chefe de entidades que representa­m os bancos.

A chave para as mudanças, na sua avaliação, está na política. “Hoje o start está na política e depois a economia vai se sobrepondo.” Redução da pobreza e do desemprego e a promoção do cresciment­o sustentado são as principais demandas que devem ser cobradas dos candidatos nas eleições. A seguir, trechos da entrevista.

• Por que o sr. escreveu o livro? Pensei nos manifestan­tes que saíram às ruas para mudar o Brasil em 2013. As manifestaç­ões de rua são importante­s na política, mas nem sempre trazem os resultados desejados. Eu fiz 18 anos em 1968. A gente protestou muito, mas fracassou. Só energia cívica não basta. Eleições são uma oportunida­de para provocar mudanças. Um entendimen­to melhor do que pode ser feito é necessário para melhorar.

• Qual é o paralelo que o sr. traça entre as manifestaç­ões de 2013 e a greve dos caminhonei­ros, ambas pararam o País?

O paralelo entre as duas é a demanda por mudanças. Acho que manifestaç­ão é bom, frustração é bom, dentro de certos limites. Cinco anos se passaram entre as duas manifestaç­ões e não se mudou quase nada. A gente muda mais devagar do que o resto do mundo.

• O primeiro passo para as mudanças está na política?

Hoje o start está na política e depois a economia vai se sobrepondo à política.

• O livro é um manual?

Sim. Ele expira em 28 de outubro porque é para as pessoas escolherem certo o presidente, deputados, senadores.

• Quais são os objetivos? Primeiro é votar bem. Segundo é que o Brasil pode ser muito melhor do que todo mundo está achando. O potencial é muito grande. Há 30 anos o PIB brasileiro era maior do que o chinês. Hoje o PIB chinês é sete vezes o brasileiro. A diferença entre os dois países é a política econômica. A China tem objetivos, metas.

• O que o sr. recomendar­ia em termos de política econômica para quem ganhar a eleição? São muitas frentes juntas. Ele tem de saber o que vai fazer com a política fiscal, monetária e cambial. Tem de ter prioridade­s. No crédito, por exemplo, acabar com os compulsóri­os, parar de tributar o crédito e tributar mais os ativos. Quem trabalha paga mais imposto do que quem vive de juros. Ele tem de conduzir essas três políticas e depois crescer.

• O sr. acha factível voltar a crescer rapidament­e?

Acho. O choque que se pode dar é no crédito.

• O sr. acha que o sistema financeiro emperra a retomada rápida da economia?

Sim. O sistema de crédito é de 30 anos atrás. Acho que o sistema financeiro lucraria mais, o País cresceria mais se tivesse cunha fiscal menor, menos compulsóri­os. Há ainda a questão de prazos de liquidez. Também temos de ter um sistema financeiro inclusivo.

• No livro, o sr. fala que às vezes a mudança é para pior. O sr. acha que houve uma piora com a mudança de governo?

Sim. O déficit público aumentou, apesar do discurso, e as expectativ­as de cresciment­o caíram. Não avançamos na medida do possível, não. Tem de pensar quais são as prioridade­s.

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NILTON FUKUDA / ESTADÃO-24/5/2018 Sinal. Roberto Troster diz que população deseja mudanças
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