O Estado de S. Paulo

‘Goliath’, a incansável luta por justiça

Estreia hoje a 2ª temporada da série estrelada por Billy Bob Thornton

- Mariane Morisawa ESPECIAL PARA O ESTADO LOS ANGELES

Billy McBride (Billy Bob Thornton), o personagem principal da série Goliath, sabe que nem sempre a lei, a justiça e a equidade são a mesma coisa. “Ele acredita na lei porque ela é necessária. Mas quer encontrar um jeito de a lei fazer sentido para todos”, disse o ator, em entrevista exclusiva ao Estado, em Los Angeles. Na primeira temporada, que rendeu a Thornton um Globo de Ouro, Billy enfrentava o poderoso escritório de advocacia que ajudou a fundar num processo envolvendo uma gigante do complexo industrial-militar.

Na segunda, que entra no ar nesta quinta, 15, na Amazon, precisa lidar com o assassinat­o de um amigo. “Esta temporada tem menos cenas no tribunal e mais de trabalho de detetive. Então saio bem mais por Los Angeles. Tem um pouco mais de film noir. É em cores, mas quase parece ser em preto e branco”, disse o ator. “Compararam a temporada anterior com O Veredicto, com Paul Newman, mas esta é como se fosse uma junção de O Veredicto com outro filme de Paul Newman, Harper – O Caçador de Aventuras, em que ele também fazia um detetive e era em Los Angeles”, conta ainda o ator.

Billy Bob Thornton, de 62 anos, adora usar referência­s hollywoodi­anas – ele também descreve os últimos três episódios deste segundo ano como uma mescla de David Lynch e Alfred Hitchcock. Nascido e criado no Estado de Arkansas, ele mora há 38 anos em Los Angeles. Por isso, gosta de ter a cidade como personagem da série. “As pessoas vê para cá para seguir seus sonhos. Como consequênc­ia, há sonhos desfeitos, outros que se realizam, gente que tem sucesso, gente que comete suicídio porque seus sonhos não se concretiza­ram. A cidade é construída sobre o romance, não num sentido sexual apenas, mas o romance de estar na cidade onde os filmes foram feitos. É a cidade onde Humphrey Bogart e Lauren Bacall estiveram.” Ele adora, por exemplo, poder rodar em lugares que conhece. “Apresentá-los ao mundo é legal”, afirmou.

Entre esses lugares está o Chez Jay, um bar em Santa Monica que Billy Bob frequentav­a nos anos 1980 e 1990. Na série criada por David E. Kelley (de Ally McBeal e Big Little Lies e senhor Michelle Pfeiffer desde 1993) e Jonathan Shapiro, Billy bate cartão lá todos os dias. Ele continua alcoólatra e morando no motel onde também montou seu escritório, apesar de ter comprado uma bela casa perto da praia com o dinheiro que ganhou no processo da primeira temporada. A casa, porém, é só um lugar para receber sua filha Denise (Diana Hopper), que está morando em Londres com a mãe, Michelle (Maria Bello). “Seus fantasmas o seguem por toda parte. O dinheiro nunca vai mudar isso”, disse Thornton. “Ele tem uma inseguranç­a. Sente que, se não estiver passando fome, não vai chegar a lugar nenhum. Precisa continuar sonhando que tem de resolver esse mistério de por que a justiça e a equidade nem sempre correspond­em ao que a lei diz.” Até resolver essa questão praticamen­te insolúvel, ele acha que não merece nada do que reconquist­ou, depois de cair em desgraça por causa de seu comportame­nto, o que o fez ser expulso do escritório que fundou e virar um advogado de porta de cadeia. “Ele está deprimido, não consegue resolver sua vida pessoal. Acho que ele é hipersensí­vel. E eu entendo, porque também sou.”

Ganhador do Oscar de 1997 de melhor roteiro adaptado pelo filme Na Corda Bamba (1996), o ator fez alguns personagen­s implacávei­s no cinema, como o racista Hank Grotowski de A Última Ceia (2002), mas fala em tom suave, quase sempre olhando para baixo e sorrindo com facilidade. Apesar de o sonho de justiça para todos de Billy ser quase impossível, o ator acha que não tem como ele não continuar sonhando. “Eu cresci como músico. E quando tinha uns 8 anos, vi os Beatles no Ed Sullivan Show. E sei que nunca vou ser os Beatles, mas isso não me impede de continuar em frente e tentar ser os Beatles”, lembra Billy Bob Thornton, que já lançou quatro discos, o último em 2007, Beautiful Door, por isso, ele ama interpreta­r esse papel. “Porque a série é sombria, mas é esperanços­a também.”

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AMAZON Billy McBride. Thornton ganhou Globo de Ouro de melhor ator em série dramática em 2017

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