O Estado de S. Paulo

Adriana Fernandes

- E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É JORNALISTA DO BROADCAST

É preciso saber quais instituiçõ­es financeira­s falharam, os erros, e o que está sendo feito para puni-las.

Apesar da crise econômica histórica, o trunfo do Brasil nos últimos anos tem sido o de suportar tormentas como as causadas pela Lava Jato e seus desdobrame­ntos, que estão atingindo em grande escala políticos, autoridade­s e empresário­s.

Mesmo nos momentos mais tensos desde o início da operação, Judiciário, Legislativ­o e Executivo têm reagido – com maior ou menor agilidade – quando acionados por causa de descoberta­s de irregulari­dades. Em boa parte dos casos, é verdade, a contragost­o.

Mas e o Banco Central do Brasil? O que fez diante das descoberta­s do maior esquema de lavagem de dinheiro desde o caso Banestado – escândalo descoberto no fim dos anos 90?

Se não monitorou antes que empresas de fachadas, operadores de propina e lobistas lavassem bilhões desviados de órgãos públicos por meio do Sistema Financeiro Nacional, o que fez depois das descoberta­s?

Puniu aqueles que se valeram das brechas em nosso sistema para lavar dinheiro? Fechou essas brechas? E os envolvidos?

São várias as perguntas que começam a surgir à medida que avançam as investigaç­ões. Mas, ao contrário do que vem ocorrendo em outras áreas, as investigaç­ões dos crimes financeiro­s ainda estão cobertas por uma nuvem densa e estão longe do conhecimen­to dos brasileiro­s.

O Banco Central afirma que as instituiçõ­es comunicara­m operações suspeitas relacionad­as a empresas mencionada­s na Lava Jato, antes mesmo de deflagrada a operação, em março de 2014. E que tem tomado todas as providênci­as cabíveis, como abertura de processos administra­tivos e comunicaçã­o dos fatos ao Ministério Público Federal, à Receita e ao Coaf (órgão que fiscaliza a lavagem de dinheiro).

Dos processos administra­tivos abertos, 35,5% são referentes a bancos, incluindo casos em que houve movimentaç­ão de recursos por empresas de fachada.

O BC apertou o controle ao exigir comunicaçã­o automática de movimentaç­ão de recursos em dinheiro vivo de R$ 100 mil para R$ 50 mil e vedou o recebiment­o de boleto de valor igual ou superior a R$ 10 mil. Além disso, a partir de março do ano que vem será preciso manter registro específico de recebiment­o de boletos em espécie.

Não há duvida que essas medidas representa­m um avanço. Mas são insuficien­tes. Afinal, alguém sabe quais bancos foram punidos por terem falhado ao monitorar as empresas de fachada que lavavam dinheiro por meio de contas em suas agências?

Para que uma suspeita como essa seja totalmente dissipada, é preciso que o BC, assim como a Receita, Ministério Público Federal e Polícia Federal, mostre e aprofunde os resultados de seu trabalho de fiscalizaç­ão.

Sem essa prestação de contas, há de se esperar que um novo escândalo, assim como a Lava Jato, venha tentar superar o caso Banestado.

Reportagem do Estado de uma semana atrás revelou que a Receita Federal encontrou indícios que apontam para a responsabi­lidade de instituiçõ­es financeira­s em crimes investigad­os na Lava Jato.

Foram identifica­dos pelo menos cinco tipos de omissões por parte de bancos e corretoras de valores relacionad­os a contratos de câmbio utilizados para lavagem e envio de dinheiro desviado da Petrobrás ao exterior.

A descoberta das omissões é apontada nos bastidores como uma das razões que motivaram a decisão do governo Michel Temer de autorizar o BC a fechar acordos de leniência com pessoas físicas e jurídicas do setor financeiro que confessare­m a prática de infração às normas legais. A autorizaçã­o vale desde junho do ano passado, e o anúncio do primeiro acordo está sendo aguardado para breve.

Para o Fisco, os bancos não foram “diligentes” na adoção de políticas, procedimen­tos e controles internos que poderiam evitar a lavagem de dinheiro por parte dessas empresas. Já a Febraban, que representa os bancos, afirma que não houve omissão e que as instituiçõ­es financeira­s são as principais fontes de comunicaçã­o ao Coaf.

Está claro que é preciso com urgência mais transparên­cia. É preciso saber quais instituiçõ­es financeira­s falharam, os erros, e o que está sendo feito para puni-las.

É preciso saber quais bancos falharam, seus erros, e o que está sendo feito para puni-los

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