O Estado de S. Paulo

Chefe de campanha de Trump é preso

Potencial delator. Paul Manafort, que comandou por um período a equipe do então candidato republican­o à presidênci­a e estava em prisão domiciliar desde novembro, é acusado de pressionar duas testemunha­s a mentir em investigaç­ão sobre conluio com russos

- WASHINGTON / AP

Para passar seus dias, ele tinha à disposição cinco propriedad­es em Manhattan e Palm Beach, com três Range Rovers e um Mercedes na garagem. Era capaz de gastar milhões de dólares em tapetes orientais e alfaiatari­a. A sorte de Paul Manafort, exchefe de campanha de Donald Trump, mudou ontem depois que uma juíza revogou sua prisão domiciliar, mandando-o para a cadeia, onde aguardará julgamento no mês que vem.

Manafort estava sob prisão domiciliar desde novembro. Mas a equipe do procurador especial Robert Mueller – que conduz uma ampla investigaç­ão sobre a influência russa nas eleições de 2016 – registrou novas acusações de obstrução de Justiça contra ele e pediu a revogação de sua fiança. Segundo eles, o ex-lobista tentou influencia­r o depoimento de duas testemunha­s em seu processo depois de já ter obtido o benefício da prisão domiciliar.

Manafort responde por realizar lobby internacio­nal e conluio com os russos durante a campanha para a eleição de Trump. Ele ainda é alvo de uma série de acusações, envolvendo lavagem de dinheiro e falso testemunho.

“Você abusou da confiança que foi depositada em você seis meses atrás”, afirmou a juíza federal Amy Berman Jackson a Manafort. Amy disse que mandá-lo para uma cela foi uma “decisão difícil”, mas a conduta dele – contatar testemunha­s do caso para tentar fazê-las mentirem para os investigad­ores – a deixou sem opção.

Fim da linha. “Isso aqui não é um colégio. Não posso tomar seu celular”, disse a juíza. “Se eu peço a ele para não ligar para a testemunha 56, ele vai ligar para a 57.ª?, afirmou, alegando que ela não deveria ter de soletrar todo o código penal para que o acusado não cometa novas infrações.

A ordem para prendê-lo encerra meses de uma disputa sobre os termos da sua fiança. Ele vinha negociando o depósito de US$ 10 milhões para poder deixar a prisão domiciliar, uma tratativa também suspensa com a decisão de ontem.

Sua detenção é o mais recente episódio do declínio da carreira de um hábil negociador político, conhecido por estar sempre impecavelm­ente vestido e ser confidente de presidente­s republican­os, desde Ronald Reagan, nos anos 80.

Trump defendeu Manafort, ao mesmo tempo em que procurou se afastar do seu ex-chefe de campanha. “(Isso) não tem nada a ver com nossa campanha, mas eu digo que me sinto um pouco mal por ele. Eles (procurador­es) voltaram 12 anos para pegar coisas que ele fez 12 anos atrás”, declarou, acrescenta­ndo que Manafort trabalhou para ele “por um período muito curto de tempo”. O ex-lobista atuou na campanha durante a Convenção Nacional Republican­a.

Manafort, de 69 anos, alega ser inocente de todas as acusações. Os procurador­es dizem se tratar de um esquema internacio­nal para lavar mais de US$ 30 milhões durante uma década em que ele exerceu um lobby não revelado para ex-políticos e partidos na Ucrânia.

Conduta

“Isso aqui não é um colégio. Não posso tomar seu celular. Seu eu peço a ele para não ligar para a testemunha 56, ele vai ligar para a 57.ª?” Amy Berman Jackson

JUÍZA FEDERAL SOBRE MANAFORT

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MANDEL NGAN/AFP Na cadeia. Paul Manafort, ex-chefe de campanha do presidente Donald Trump, chega ao tribunal em Washington
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Defesa O presidente Donald Trump disse ontem que os que buscam provas sobre seu envolvimen­to com russos durante a campanha estão desacredit­ados porque apresentam conflitos de interesse.

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