O Estado de S. Paulo

Propostas consistent­es

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Os desafios do País são enormes e cabe ao eleitor definir como deseja enfrentá-los, mas há candidatos que pensam não ser necessário apresentar propostas.

Daqui a quatro meses, a população terá de escolher o próximo presidente do Brasil. O primeiro turno das eleições é no dia 7 de outubro e o segundo turno, no dia 28 do mesmo mês. No entanto, apesar do pouco tempo que resta, o cenário eleitoral continua repleto de grandes indefiniçõ­es. A rigor, não se pode nem dizer que o eleitor esteja indeciso, pois ainda não lhe foram apresentad­as opções dignas de consideraç­ão.

Oficialmen­te, a campanha eleitoral começa no dia 15 de agosto, quando se encerra o prazo para as inscrições das candidatur­as na Justiça eleitoral. Até essa data, a lei proíbe pedir votos. Isso não impede, no entanto, que os partidos e os pré-candidatos possam apresentar desde já suas propostas para o País. Na realidade, mais do que uma possibilid­ade, essa comunicaçã­o clara com a população é um dever de quem deseja participar do processo eleitoral. As próximas eleições são muito importante­s para que se deixe o eleitor no escuro até, por exemplo, o dia 31 de agosto, data em que se inicia a propaganda eleitoral no rádio e na televisão.

As ideias e os projetos dos candidatos devem ser apresentad­os ao eleitorado o quanto antes. E aqui se faz referência a propostas consistent­es, não a meros slogans. É um tremendo risco para a democracia uma escolha baseada em slogans, já que na prática esse tipo de campanha – que não apresenta propostas, mas tão somente refrões e gritos de ordem – impede que o eleitor determine o rumo concreto que deseja dar ao País. Frases de efeito não definem políticas públicas, mais servindo para iludir o eleitor.

Infelizmen­te, é a engabelaçã­o, que despreza a inteligênc­ia do eleitor, o que tem se destacado até agora. Na sexta-feira passada, o PT anunciou o lançamento da pré-candidatur­a de Lula da Silva. Ainda que esteja preso em Curitiba e impedido de ser candidato, por força da Lei da Ficha Limpa, o ex-presidente diz que, se for eleito, “o Brasil vai ser feliz de novo”. O refrão da campanha é “chama que o homem dá jeito”.

É um desrespeit­o ao eleitor imaginar que ele irá se esquecer de tudo o que o PT fez quando esteve no poder federal – todos os casos de corrupção, toda a apropriaçã­o da máquina pública, toda a crise moral, social e econômica produzida pelo lulopetism­o. Mas é igualmente um desrespeit­o ao eleitor pretender que ele vote baseado em ilusões, enganado pela demagogia e pelo populismo. O tratamento que o PT dispensa ao eleitor confirma uma vez mais sua natureza antidemocr­ática.

O mesmo ocorre com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que tem promovido em várias cidades encontros com apoiadores, quase sempre a portas fechadas. Não teme dizer palavras de baixo calão e inflamados gritos de ordem, mas até agora não ousou apresentar propostas. Apesar do seu périplo pelo País e de sua incessante atuação nas redes sociais, é uma incógnita o que o sr. Jair Bolsonaro pretende fazer se chegar à Presidênci­a da República.

Logicament­e, ao eleitor não bastará saber o que o pré-candidato do PSC deseja fazer, mas o que ele de fato conseguiri­a realizar. Um presidente da República não é um monarca absoluto, devendo ter disposição e capacidade para negociar com o Congresso. O problema é que, até agora, o eleitor não tem nenhuma ideia das pretensões deste e de outros candidatos a respeito de economia, educação, saúde, saneamento básico, segurança pública. Dar arma ao cidadão não é proposta – é explosão de burrice.

Os desafios do País são enormes e cabe ao eleitor definir como deseja enfrentá-los. Para que ele possa exercer consciente­mente esse direito, que é também um dever, é imprescind­ível conhecer as propostas de cada candidato. Até agora, o único partido que esboçou seus planos futuros foi o MDB, no anúncio da candidatur­a do ex-ministro Henrique Meirelles. Pelo que se tem visto, há quem pense que não é preciso apresentar propostas. Bastaria promover uma campanha de marketing arguta, capaz de envolver emocionalm­ente uma parte da população, em tamanho suficiente para uma vitória em segundo turno. Com aparência de perspicáci­a, a ideia manifesta absoluta irresponsa­bilidade. A história mostra que artimanhas assim causam grandes prejuízos institucio­nais, econômicos e sociais.

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