Caderno2
Édouard Louis busca em sua infância miserável a matéria-prima de ‘O Fim de Eddy’
Desamparo. Aos 25 anos, Édouard Louis aborda violência em livro de estreia.
A voz do outro lado da linha é serena e não parece ser da mesma pessoa que abre seu romance de estreia, assumidamente autobiográfico, dizendo que de sua infância não guarda nenhuma lembrança feliz e que, embora tenha experimentado um ou outro sentimento de alegria, “o sofrimento é simplesmente totalitário: ele faz com que tudo que não se enquadra em seu sistema desapareça”.
A partir daí, o escritor Édouard Louis, um dos novos – e mais badalados – nomes da literatura francesa, leva o leitor para dentro da sua casa miserável, para o centro da vila operária falida no norte da França onde, até perto dos 15 anos, suportou as piores violências e humilhações.
Hoje, aos 25, não muito tempo depois de descobrir que ele poderia reinventar sua vida, Édouard fala sobre seu livro O Fim de Eddy, lançado agora no País pelo selo Tusquets, da Planeta, traduzido para 20 idiomas e com mais de 300 mil exemplares vendidos só em seu país.
É a história de um garoto que nasceu gay numa sociedade tradicionalmente machista, alcoólatra e homofóbica; que esperava, num corredor escondido da escola, a surra que levava, invariavelmente, todos os dias, de dois alunos. Do menino que pagou pelo desgosto que causou à família e que tentou a todo custo ser Eddy – e falhou. É, sobretudo, a história de uma criança desamparada.
Irma la Douce
IRMA LA DOUCE. (EUA, 1963.) DIR. DE BILLY WILDER, COM JACK LEMMON, SHIRLEY MACLAINE, LOU JACOBI.
Três anos depois dos Oscars – de filme e direção – que recebeu por Se Meu Apartamento Falasse, o grande Wilder reuniu de novo a dupla Lemmon/Shirley. Nos anos 1960, o mundo estava mudando, mas o sexo ainda era tabu em Hollywood quando o diretor resolveu contar a história de Nestor e Irma. Ele é policial, ela é prostituta. Destituído da força, Nestor vira gigolô, mas quem diz que aguenta ver sua Irma rodar a bolsinha e emendar um no outro – cigarros e clientes? O filme é rico em observações, mas a sacada de gênio de Wilder e seu roteirista I.A.L. Diamond foi transformar Lou Jacobi, como Moustache, o dono do bar, em narrador. O tempo todo ele faz digressões. Como Wilder sempre foi um mestre dos disfarces, Nestor se desdobra num fictício cliente que exige exclusividade. Com o tempo, ele passa a odiar esse outro, ou seja, ele. O filme é ótimo. Monstros emergem do mar e, para combatê-los, cientistas criam robôs gigantescos, operados por dois pilotos unidos por conexão neural. O fantástico segundo Del Toro.
Jurassic Park
A emissora exibe os 3 filmes da série antiga e o primeiro da nova, aproveitando que o segundo Jurassic World está em pré-estreias pagas nos cinemas. Embora os dois primeiros sejam dirigidos por Steven Spielberg, o 3, de Joe Johnston, é melhor, com um conflito familiar mais sólido.