BC intervém e dólar recua
Banco Central colocou ontem no mercado o equivalente a US$ 5,75 bilhões para segurar a moeda americana, que fechou cotada a R$ 3,73
O Banco Central despejou US$ 5,75 bilhões no mercado e o dólar fechou ontem em baixa de 2,04%, cotado a R$ 3,73. Foi a maior intervenção do BC em um dia. Na quinta-feira, a moeda americana havia alcançado R$ 3,80.
Após avançar 2,53% na quinta-feira, o dólar fechou ontem em baixa de 2,04%, cotado a R$ 3,73. O recuo expressivo da moeda americana foi resultado direto de mais um dia de forte intervenção do Banco Central nos negócios. A instituição despejou US$ 5,75 bilhões em recursos novos no mercado, para segurar as cotações. Esta se tornou a maior intervenção da história em um único dia. O dólar turismo – mais caro nas casas de câmbio – recuou 2,10%, para R$ 3,8670.
O BC já vinha atuando nas últimas semanas por meio de leilões de swap – um tipo de contrato cambial que, quando negociado no mercado, gera um efeito equivalente à venda de dólares. Na quinta-feira, a instituição já havia despejado US$ 5 bilhões em swaps no sistema, mas ainda assim a cotação da moeda americana disparou.
Por trás deste movimento está a tendência de alta da moeda americana em todo o mundo – principalmente em relação às divisas de outros países emergentes – ea inquietação dos investidores com a eleição presidencial no Brasil, por conta da dificuldade de um candidato de centro avançar nas pesquisas.
“O Brasil acaba sofrendo nesse contexto de eleições”, disse o analista da gestora Bulltick em Miami, Klaus Spielkamp. “Apesar de não termos um candidato de esquerda liderando as prévias, o fato de não ter um de centro-direita ou centro-esquerda com chances incomoda a maioria dos analistas.”
Ontem, o BC dobrou os esforços para segurar a moeda americana. Além da venda de dólares durante o dia, a instituição já havia anunciado, na quinta-feira, a intenção de, na próxima semana, injetar mais US$ 10 bilhões no mercado. Este valor, conforme o BC, pode até aumentar, se for necessário. A autarquia disse ainda não ver restrições para que os níveis de intervenção excedam “consideravelmente” o que foi visto no passado.
Para os profissionais do mercado financeiro, a mensagem do BC é de que tem munição para evitar a disparada da moeda americana e está disposto a usála. Isso abriu espaço para a baixa do dólar ante o real ontem.
Só que analistas seguem avaliando que, em função das incertezas eleitorais, da fraqueza da atividade econômica e do avanço da moeda americana no exterior, a tendência também é de continuação da alta do dólar no Brasil. “Ao conhecerem o montante da atuação do BC por determinado período, os agentes de mercado se preparam para acolher a oferta e, naturalmente, deprimem a taxa de câmbio, sem contudo reverter o viés de alta para o dólar”, disse o diretor executivo da corretora NGO, Sidnei Nehme.
Nesse contexto, a próxima semana promete ser mais um período de estresse para o mercado brasileiro. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidirá sobre o novo patamar da Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 6,50% ao ano – a aposta do mercado é de que esse patamar será mantido.
“Não ter um (candidato) de centro-direita ou centro-esquerda com chances incomoda a maioria dos analistas.” Klaus Spielkamp
ANALISTA DA GESTORA BULLTICK