Itália e França pedem centros de imigração fora da Europa
Macron e Conte se encontram após crise causada por navio de imigrantes que seguiu para Espanha
O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, e o presidente francês, Emmanuel Macron, pediram ontem a criação de centros para o processamento dos pedidos de asilos de imigrantes em seus países de origem. “O perigo não começa nos barcos”, disse o italiano, após a crise causada pelo barco Aquarius, que levava mais de 600 migrantes a bordo e foi proibido de atracar na Itália.
Macron reiterou o pedido, dizendo ser a favor de sucursais das agências para lidar com a questão. O presidente francês também pediu maior solidariedade com a Itália que, desde 2015, recebeu quase meio milhão de imigrantes.
“Com nossos parceiros, queremos uma reforma profunda do sistema de Dublin” disse o presidente, referindo-se ao regulamento europeu determinando que imigrantes devem pedir asilo no primeiro país europeu onde chegarem. Para a Itália, a regra impõe uma carga desproporcional sobre os países do Mediterrâneo, como Espanha, França e Grécia.
As propostas não terão fácil aceitação, já que a União Europeia apresenta grandes fraturas quando o assunto é gestão da crise migratória. Além disso, ainda há o Grupo de Visegrado, composto por Polônia, Romênia, Eslováquia e República Checa, países contrários ao acolhimento de refugiados. O discurso antiimigrante tem permeado outros países europeus, como Áustria e Itália. Na Alemanha, conservadores que sustentam a coalizão de Angela Merkel a pressionam a endurecer a entrada de imigrantes.
Nesta semana, ministros de Alemanha, Áustria e Itália propuseram a criação de um “eixo de voluntários” para lidar com a imigração ilegal, aumentando as tensões e discordâncias no bloco. A declaração conjunta de França e Itália vem após tensões entre os dois países. Quando a Itália rejeitou a entrada do navio Aquarius, Macron acusou Roma de “cinismo e irresponsabilidade”.
Enquanto isso, o navio segue para a Espanha, que se ofereceu para recebê-lo. A chegada ao porto de Valência está prevista para os próximos dias. Serviços de emergência espanhóis informaram que, desde a semana passada, cerca de 700 migrantes foram resgatados vivos e outros quatro, mortos. Para Conte, agora é hora de “virar a página” sobre a disputa entre Itália e França. Ele acrescentou que o país deve adotar uma abordagem “integrada” com relação a migração assim que a Áustria assumir a presidência rotativa do bloco, em julho.