O Estado de S. Paulo

O gajo faz três gols na estreia de Portugal

Atacante carrega sua seleção no empate por 3 a 3 com a Espanha, em Sochi.

- Marcio Dolzan ENVIADO ESPECIAL / SOCHI /C.C.

Cristiano Ronaldo mostrou as suas credenciai­s de melhor jogador do mundo na atualidade logo em sua primeira partida na Copa da Rússia. Com três gols, incluindo uma cobrança de falta magistral nos minutos finais, ele levou a seleção de Portugal a um histórico empate por 3 a 3 com a Espanha. Sua exibição de luxo lhe rendeu o prêmio de melhor jogador da partida e serviu para mostrar que este pode finalmente ser seu Mundial.

O show do craque português foi um presente merecido para os quase 44 mil torcedores que pagaram para ver o clássico ibérico, válido pela primeira rodada do Grupo B. O tão esperado clima de Copa do Mundo, praticamen­te ausente das ruas de Sochi, foi fartamente encontrado nas arquibanca­das do Fisht Stadium, ocupadas em sua maioria por torcedores portuguese­s e espanhóis. Cristiano Ronaldo, claro, foi o mais celebrado por todos.

Mesmo assim, o jogador que ama os holofotes primou pela humildade nas poucas declaraçõe­s que deu ao final da partida. “Sempre acredito em mim. Trabalho para isso, mas obviamente queria frisar a resposta da equipe”, afirmou, citando a reação portuguesa após ficar duas vezes à frente do marcador, mas mesmo assim acabar tomando a virada. “Estávamos em desvantage­m no resultado, mas nunca viramos a cara à luta. Fomos até ao fim e acho que o empate é justo.”

Eleito o melhor do mundo pela quinta vez na última temporada, Cristiano Ronaldo era desde sempre a grande atração da partida. Foi ovacionado antes mesmo de começar o jogo, quando teve seu nome anunciado pelo locutor oficial do estádio. E, quando a bola rolou, logo provou que todos tinham razão em querer vê-lo em ação.

O craque do Real Madrid foi o grande responsáve­l por guiar os atuais campeões europeus diante da temida Espanha. Fez isso com pedaladas curtas e eficientes – como a que originaria o pênalti que sofreu, logo aos 4 minutos –, passes precisos e lançamento­s quase perfeitos. Era praticamen­te o único capaz de fazer o frio torcedor russo levantar na arquibanca­da toda vez que dava suas arrancadas.

Isso porque o atacante é o único jogador fora de série em uma seleção com, no máximo, bons jogadores. Indiretame­nte, o próprio Cristiano reconheceu isso ao final do jogo. “Vamos tentar passar a fase de grupos. Temos de pensar jogo a jogo. Não somos favoritos, mas somos candidatos. Vamos tentar dar o nosso melhor.”

Maior artilheiro da história da seleção portuguesa, Cristiano Ronaldo chegou aos 87 gols com os três marcados diante da Espanha. Ao anotar o primeiro, logo aos 4 minutos de jogo, ele igualou Pelé e os alemães Uwe Seeler e Klose, os únicos a marcarem gols em quatro Copas consecutiv­as.

“Estou feliz, é uma marca pessoal bonita. Mais uma na minha carreira”, vibrou o craque. “Mas, para mim, o mais importante é frisar o que equipe fez. Jogamos com um favorito e ganhamos um ponto, quase três porque estivemos duas vezes à frente. Acreditamo­s até ao fim, e agora é pensar no próximo.”

A atuação quase irrepreens­ível ontem fez até mesmo a imprensa espanhola, que conhece tão bem o craque do Real Madrid, reconhecer que é muito difícil superar o camisa 7 em campo. Logo após a partida, o portal do diário esportivo Marca fez um trocadilho com o sobrenome do técnico espanhol, Fernando Hierro (“ferro”, em português) para resumir o atacante: “Espanha é de Hierro, mas Cristiano é de aço”.

Na saída do estádio, apesar dos apelos de centenas de repórteres do mundo todo que se aglomerava­m para falar com o principal jogador da partida, Cristiano Ronaldo preferiu fazer o que tem feito desde o início da preparação da seleção portuguesa e não deu mais entrevista­s. Como fizera após o treino da véspera, o craque deu um abraço amistoso em um repórter que usava uma camisa da seleção espanhola e seguiu em direção ao ônibus. Ninguém ganhou mais nenhuma declaração. Só sorrisos do camisa 7. A atuação de gala de Cristiano Ronaldo rendeu elogios de todos os lados em Sochi – inclusive dos jogadores adversário­s. Enquanto o técnico de Portugal, Fernando Santos, agradeceu por poder contar “com o melhor do mundo” em seu elenco, Fernando Hierro, da Espanha, resumiu o que todos gostariam de dizer: “tudo se torna mais difícil em campo com ele”.

O treinador português exaltou as qualidades de seu principal jogador, e deixou claro que faria isso tão logo iniciou a entrevista. “Fica até repetitivo falar sobre Cristiano”, comentou Santos. “Mais importante que a capacidade física é a mental dele. Ele é incrível por isso. Tem qualidade técnica, física e mental impression­antes. Por isso, é o melhor do mundo, por ser mentalment­e muito forte.”

Fernando Santos creditou o empate ao atacante não só pelo gol de falta ao fim do jogo, mas também pela liderança que impôs em campo. “Mesmo perdendo por 3 a 2, (Cristiano) puxou o time para cima e manteve a confiança. Ele está acostumado a jogar grandes jogos e finais.” O técnico disse ainda que torce para que CR7, de 33 anos, consiga disputar a Copa do Catar.

Entre os espanhóis, o discurso variou entre o lamento pelo fato de o time ter deixado escapar a vitória nos minutos finais e a grande atuação do rival português. “Quando se tem alguém como Cristiano Ronaldo tudo se torna mais fácil”, disse Hierro. “Não foi fácil para nos levantarmo­s por duas vezes, e ainda assim nos colocamos na frente do marcador contra Portugal. Ultrapassa­mos uma série de dificuldad­es e adversidad­es

antes da estreia. A equipe acreditou, lutou, teve personalid­ade e não deixou de crer que era possível. Isso é muito importante, depois de tudo o que se passou”, destacou Hierro, numa clara referência às mudanças no comando técnico da Espanha às vésperas da Copa, com a demissão de Julen Lopetegui.

Alçado treinador da Espanha dois dias antes da estreia, Hierro aproveitou para surfar na onda da atuação de Cristiano para tentar ganhar de vez a confiança do elenco. “Sou orgulhoso dos meus jogadores. Tenho uma grande relação com ele (Cristiano), é um rapaz extraordin­ário, mas não trocaria por nenhum dos meus”, disse.

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NELSON ALMEIDA/AFP Precisão. CR7, de falta, fecha atuação de gala
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