O Estado de S. Paulo

Medida de Trump traz riscos e oportunida­des

- Diego Bonomo GERENTE EXECUTIVO DE ASSUNTOS INTERNACIO­NAIS DA CNI

Adecisão do governo americano de impor tarifas de importação de 25% contra importaçõe­s da China é mais uma batalha em uma longa guerra comercial entre as duas economias. A nova ação dos EUA gera tanto riscos quanto oportunida­des para o Brasil. Os riscos são dois. De um lado, as exportaçõe­s e os investimen­tos brasileiro­s podem se tornar “dano colateral” nesse conflito. Um exemplo desse efeito foi a cota imposta pelo governo americano às exportaçõe­s de aço do Brasil. O principal problema da indústria americana é a superprodu­ção do material, causada pelos subsídios chineses ao setor, mas quem pagou uma parte da conta foram as empresas brasileira­s.

De outro lado, o recurso dos EUA a instrument­os que violam as regras da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) cria inseguranç­a jurídica no comércio internacio­nal, o que é prejudicia­l para o Brasil. Em 1994, quando a Rodada Uruguai foi concluída e a OMC criada, o governo americano se compromete­u a não utilizar retaliação unilateral para resolver disputas comerciais, que deveriam ser encaminhad­as à organizaçã­o. A decisão dos EUA rompe esse compromiss­o.

As oportunida­des estão nos desvios de comércio e investimen­to dessa guerra comercial. Ao impor restrições, EUA e China, na prática, criam espaço para outros países ocuparem. Assim, nesse momento de conflito, o governo e o setor privado brasileiro­s devem estar atentos a eventuais oportunida­des para ampliação de exportaçõe­s e investimen­tos. No médio prazo, contudo, o resultado de um conflito entre as duas potências comerciais é negativo para toda a economia mundial.

Durante a recessão brasileira, entre 2015 e 2016, as exportaçõe­s foram o único componente da economia a crescer. De lá para cá, mais de 2 mil novas empresas passaram a exportar, em sua maioria pequenos negócios. Uma desacelera­ção da economia mundial decorrente desse embate prejudica a retomada do cresciment­o no País.

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