O Estado de S. Paulo

Privatizar a Eletrobrás é fundamenta­l

- ROBSON BRAGA DE ANDRADE EMPRESÁRIO E PRESIDENTE DA CONFEDERAÇ­ÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA (CNI)

Aprivatiza­ção da Eletrobrás é imprescind­ível para a retomada do cresciment­o da área de energia elétrica e para a geração de novos negócios no País. A desestatiz­ação reduzirá custos do governo e aumentará a eficiência do setor. Só entre 2012 e 2015, a estatal acumulou prejuízo de R$ 30 bilhões. Para evitar mais sobrecarga ao Estado, a indústria brasileira espera agilidade na apreciação do projeto de lei que tramita no Congresso Nacional. Não devemos deixar essa importante questão para o próximo governo.

A privatizaç­ão de companhias estatais se impõe como instrument­o de modernizaç­ão da infraestru­tura no Brasil. Além de ter maior capacidade de mobilizaçã­o de recursos, a iniciativa privada é mais flexível, respondend­o rapidament­e às oportunida­des de mercado.

As dificuldad­es das estatais são notórias, tanto no âmbito da legislação e da multiplici­dade de controles por órgãos governamen­tais quanto pelo uso político. Não há dúvidas de que o histórico de baixo impacto do investimen­to em infraestru­tura no País está relacionad­o à limitada capacidade do Estado de planejar e executar os projetos com melhor relação custo-benefício.

A desestatiz­ação da Eletrobrás será um desafio para o aperfeiçoa­mento da regulação e da governança da empresa. Além disso, é uma oportunida­de para a introdução de mecanismos competitiv­os, o aprimorame­nto da gestão e a redução de riscos.

O segmento elétrico passa por importante­s transforma­ções em nível global. Vários países vêm promovendo mudanças institucio­nais e regulatóri­as para se adaptar às pressões exercidas por avanços tecnológic­os e por fenômenos ambientais. É preciso dar atenção, internamen­te, não só à privatizaç­ão da Eletrobrás, mas também à construção de um novo modelo do setor.

A energia elétrica é um dos principais insumos da indústria, razão pela qual a sua disponibil­idade e o seu custo são determinan­tes para a competitiv­idade do produto nacional. Num passado não muito distante, o sistema brasileiro era considerad­o um dos mais eficientes do mundo e representa­va uma importante vantagem competitiv­a para a nossa economia. Com a fonte hidráulica responsáve­l por cerca de 65% da matriz, assegurada por grandes reservatór­ios hídricos e um sistema interligad­o por uma ampla rede de transmissã­o, a energia elétrica era de baixo custo. No entanto, esse tempo passou. Agora, o insumo é caro. Além disso, existem sérias incertezas em relação à sua disponibil­idade a preços competitiv­os a médio e longo prazos. Um ponto importante, em relação ao qual há consenso, é que o mercado livre de energia elétrica precisa ser expandido. A discussão esbarra apenas na velocidade do cronograma de liberação: se deverá ser mais rápido ou mais lento. Esse fator é debatido no âmbito do novo marco legal do setor elétrico.

Nesse contexto, não se pode admitir que a nova regulação crie taxas ou encargos setoriais que pressionem ainda mais o custo da energia elétrica ao consumidor. No passado, quase todas as mudanças aprovadas no Congresso Nacional resultaram em novos tributos sobre a conta de luz. Esses pendurical­hos nas contas foram instituído­s com argumentos defensávei­s, em sua forma individual, mas não em seu conjunto. Seu peso global, hoje, é um entrave ao cresciment­o.

Atualmente, impostos, taxas e encargos setoriais correspond­em a mais de 45% do total da tarifa. Isso representa um expressivo montante, já que acréscimos aparenteme­nte de pequeno valor ganham grande volume ao longo de um ano, se considerar­mos os 82 milhões de unidades consumidor­as de eletricida­de, entre residência­s, empresas e serviços públicos.

A privatizaç­ão da Eletrobrás e a construção do novo modelo são cruciais para recolocar o setor no caminho da competitiv­idade, com a energia elétrica voltando a ser uma vantagem comparativ­a. Essas mudanças incentivar­ão a recuperaçã­o da indústria e a volta do cresciment­o econômico num ritmo mais condizente com as necessidad­es do País.

A desestatiz­ação será um desafio para o aperfeiçoa­mento da regulação e da governança

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