O Estado de S. Paulo

Duda Beat faz ‘sofrência indie’ de suas desilusões

Com a estreia em ‘Sinto Muito’, cantora nascida no Recife se reergue com canções sobre superar as dores acumuladas

- Pedro Antunes

“Sempre fui de me apaixonar por músicos”, quem diz é Duda Beat, mas quando o faz, se refere ao tempo no qual era Eduarda Bittencour­t, garota do Recife que se mudou para o Rio de Janeiro há 13 anos e, invariavel­mente, caía de amores por alguém com um instrument­o a tiracolo. É outra, agora com nome artístico e com um disco próprio para chamar de seu. Sinto Muito, disco que chegou às plataforma­s digitais recentemen­te, é o descarrego emocional poderoso de Eduarda, agora transforma­da em Duda, a artista.

“É interessan­te que fui perceber que me atraía por músicos, figuras que não queriam nada comigo, e percebi que era algo que eu realmente queria fazer”, ela conta. Quando deixou sua casa em direção ao Rio, o objetivo era, veja bem, cursar medicina. Na época, seu grande amigo era Tomás Tróia (spoiler: guarde esse nome). O canto era algo que já existia desde a infância. Dos tempos de cantar na igreja, ela dividia o coro com outras três garotas. Certo dia, o pastor lhe pediu para que cantasse sozinha. “Foi quando pensei que pudesse ter algum tipo de talento para isso.”

A música veio em doses homeopátic­as. Ela, por exemplo, participou de dois dos grandes discos da música brasileira de 2018: Sintoma, uma delicada hora de autoconhec­imento de Castello Branco, e da nova persona de Letícia Novaes, Letrux, na delícia oitentista e inundada de paixão e tesão Em Noite de Climão.

Queria, ao se formar médica, se especializ­ar em anestesia. “Minha vontade era fazer com que as pessoas se curassem sem sentir dor”, ela diz. Ironia das boas da vida é que Duda Beat parece se tornar, com a força de suas músicas espalhadas no esquema do “boca a boca”, uma espécie de “guru do amor” graças ao conteúdo de Sinto Muito.O disco, que une uma estética que caminha entre o indie e o pop, pela escolha de arranjos pouco ortodoxos, ainda assim, bons de grudar na cabeça (ou no coração), é uma aula de superação de dores passadas.

Lançado por uma Duda (ou Eduarda) de 30 anos, o trabalho de certo não soaria – nem rasgaria – da mesma forma se ela tivesse uma década de vivência e “sofrências” a menos. Funcionam, esses tais versos tão pessoais, porque a artista viveu “à flor da pele”, como ela canta em Bédi Beat, a primeira faixa do álbum, depois da introdução instrument­al Anicca: “E eu vivia à flor da pele nem percebia / Que das vezes que eu ria era vontade de chora / Chorar, chorar...”.

Com músicas como Bixinho, ela também canta outras formas de amor – nesta faixa, no caso, ela vive o amor “desapegado”, daqueles leves, sem pressões ou expectativ­as, mas cheios de beijos ardentes. “Hoje, recebo muita mensagem de gente que quer ajuda para chamar alguém para sair e digo: ‘Olha, o não você já tem’.”

Sem nunca ter medo de quebrar a cara, ou o coração, Duda se entregou à vida, tal qual o faz com a música. E, com o auxílio de Tomás Tróia (aquele do início do texto), na estreia dele como produtor, ela se lança como artista. E, na convivênci­a, ela e Tomás se tornaram um casal. “É um disco para corações reconstruí­dos”, ela garante. “Porque são músicas tristes, mas são amores que doeram e, hoje, não machucam mais.”

 ?? ANA ALEXANDRIN­O ?? Inteira. Artista se reconstrui­u após desamores
ANA ALEXANDRIN­O Inteira. Artista se reconstrui­u após desamores
 ??  ?? DUDA BEAT ‘Sinto Muito’
Independen­te; plataforma­s digitais
DUDA BEAT ‘Sinto Muito’ Independen­te; plataforma­s digitais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil