O Estado de S. Paulo

Ministro volta a criticar cortes na área cultural

Após medida provisória privilegia­r segurança pública, Sá Leitão diz esperar “fazer do limão uma limonada”

- Roberta Pennafort / RIO

O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, voltou a criticar ontem cortes de verbas para o setor cultural em época de crise. Mas garantiu que a Medida Provisória 841, que desvia para a segurança pública recursos das loterias esportivas que poderiam ser destinados à sua pasta, não sepultará a busca do MinC por meios de financiar projetos. Ele reiterou que permanece no governo: “Sou daqueles que lutam até o fim”.

Surpreendi­do pelo texto da MP, divulgado terça-feira, Sá Leitão explicou que a Casa Civil, o Planejamen­to e a Fazenda já vêm estudando uma proposta do MinC de que 3% dos valores arrecadado­s pelas loterias sejam destinados diretament­e pela Caixa a projetos das áreas de teatro, música e circo, entre outras. Assim, o dinheiro não estaria submetido a contingenc­iamentos nem seria alocado em outras áreas.

A ideia do MinC é criar “uma espécie de Lei Agnelo Piva (de 2001, criada para o fomento ao esporte) para a cultura”, comparou. Os valores subsidiari­am projetos escolhidos por um comitê gestor, formado por representa­ntes do ministério, da Caixa e do meio cultural. Cerca de mil projetos seriam beneficiad­os por ano, pelas contas baseadas nos números de 2017.

A geração de postos de trabalho chegaria a 150 mil, com arrecadaçã­o de impostos de R$ 1,8 bilhão, disse. Seria uma forma de os 3% do montante oriundo das loterias de fato financiare­m a cultura – historicam­ente, os recursos, no Tesouro, são contingenc­iados.

Sá Leitão participou de uma apresentaç­ão sobre investimen­tos federais no Estado do Rio, transforma­da numa prestação de contas de seu gestão, iniciada há onze meses. Numa exposição de mais de 2h30, convocou o setor cultural a apoiar seu pleito por mais recursos, e garantiu que “não iria desistir”.

Ele afirmou que os investimen­tos no Rio, em projetos como a recuperaçã­o da fachada da Biblioteca Nacional, a R$ 10,7 milhões, a primeira etapa da reforma do Palácio Capanema, a R$ 34 milhões, e R$ 200 mil emergencia­is para a reabertura do Ponto Cine, sala popular de Guadalupe, subúrbio da zona norte do Rio, somam R$ 1,1 bilhão (2017/ 2018).

Ele criticou o fato de a cultura ser a primeira área a sofrer cortes em períodos de recessão. “A cultura é vista como algo secundário. Essa é uma postura burra, não existe outra palavra para definir isso. Na recessão, a medida inteligent­e é aumentar o investimen­to em cultura, aumentando também a arrecadaçã­o”, disse.

“A resposta que tivemos do presidente foi muito positiva”, declarou o ministro, dizendose confiante na “construção de uma solução”. “Estamos diante da possibilid­ade de transforma­r um limão numa limonada. A política de segurança pública não pode ser feita em detrimento da política cultural”, continuou.

“Os 3% nunca chegam ao Fundo Nacional de Cultura, porque vão para o Tesouro. Assim, não temos como fazer fomento direto, que é uma lacuna. Como se isso não bastasse, vem a MP e reduz a participaç­ão para 1% ou 0,5%. Na prática, em valores de 2017, seria uma queda de R$ 426 milhões para R$ 71 milhões. Colocamos isso democratic­amente (ao Planalto)”, disse à plateia.

“A CULTURA É VISTA COMO ALGO SECUNDÁRIO”, CRITICOU O MINISTRO

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