O Estado de S. Paulo

Monstros no palco

Diretora Carla Candiotto leva para o teatro a série ‘Que Monstro te Mordeu?’

- Eliana Silva de Souza

Em 2014, o público infantil ganhou de presente a série Que

Monstro Te Mordeu?, criação de Cao Hamburger e Teodoro Poppovic. Agora, esse sucesso da telinha ganhou nova roupagem para brilhar no palco pelas mãos da premiada diretora Carla Candiotto. Com o mesmo nome da produção original, o espetáculo fica em cartaz no Teatro Sesi até dia 2 de dezembro, junto com a exposição interativa A Monstruosa Exposição dos Monstros, onde a criançada pode desenhar e conhecer os bastidores da série.

Referência em teatro infantil, Carla experiment­a agora algo novo em sua vasta carreira, o teatro de bonecos. “É uma linguagem nova para mim, porque agora tenho os bonecos na frente dos atores”, conta a diretora, afirmando que, depois do primeiro impacto com o novo, logo se eu deu conta de que o que tinha à sua frente era teatro, e isso é com ela. “Quando passou a preocupaçã­o com essa nova linguagem à minha frente, consegui alinhar meu raciocínio para poder dirigir os bonecos.”

A diretora, que também assina o texto, fala da importânci­a da técnica usada no espetáculo, que é feito com bonecos manipulado­s. “Fizemos a opção pelo mais difícil, pois, se é para fazer teatro de bonecos, vamos tentar fazer o melhor, usando essa linguagem diferente, em que, às vezes, é preciso duas ou três pessoas para manipular os personagen­s”, conta.

Para chegar ao resultado pretendido, Carla diz que passou por várias fases, para conseguir um espetáculo que tenha a perfeita comunicaçã­o entre os atores/manipulado­res com a plateia. “Na parte técnica, o Marco Lima, responsáve­l pela direção de arte, e a Adriana Telg, a direção de movimento, me ajudaram muito”, afirma.

Ela conta como se questionou sobre todos os aspectos a serem abordados. “Precisava saber o que tinha de fazer para que um boneco bebesse água, por exemplo, ou como a lata de lixo falaria mexendo a boca, que é sua tampa”, afirma ela, que explica que, depois que superou esses primeiros passos, conseguiu relaxar e começou se divertir. Meticulosa com todos os detalhes, a diretora destaca a importânci­a de algumas técnicas usadas. Na questão da luz, por exemplo, contou com a parceria de Wagner Freire, com quem conseguiu atingir o objetivo desejado. “A ideia era que jogasse o foco para os bonecos e não para os manipulado­res. Assim, a luz foi primordial”, diz.

Ela destaca também a sua opção pela técnica de manipulaçã­o. “Eu assisti, li, perguntei, me informei o máximo possível e optei pelo que gosto mais. É incrível você ter três pessoas manipuland­o uma lata de lixo e ficar com pena da lata”, fala a entusiasma­da Carla, que conta ainda que, sobre o texto, que formulou “cenas para que os bonecos não ficassem de costas, todo o desenho da cena foi pensado para que ali tivesse uma luz, uma entrada, uma saída, os focos certos, no momento certo, um verdadeiro jogo de quebracabe­ças”, diz. “Por exemplo, uma lata de lixo, que mexe a tampa quando fala, e a bola de chiclete que está do lado também tem que estar viva, então eu tinha que saber como direcionar esse foco.”

Carla gosta de dizer que o primeiro público do espetáculo é ela mesma. “Eu assisti primeiro, para saber o que funcionari­a, para sentir se tudo funcionava. Não tem uma cena que eu não me coloque de fora para ver se eu entendi: ‘tudo bem, eu escrevi isso, por que eu escrevi isso’”, conta a exigente diretora. E isso tudo vem de sua experiênci­a, que mostra como o público infantil é inteligent­e. “Nunca o subestime, é um público muito honesto.”

Toda essa trajetória para desenvolve­r o espetáculo se deve ao fato de Carla se questionar sobre a ideia original dos seus criadores. “A minha pergunta foi: ‘o que o Cao e o Teo queriam com a série?’”, conta ela, que teve a preocupaçã­o de pensar que algumas crianças poderiam não conhecer a série. “Então, volto na história, mostrando de onde Lali (Bebel Ribeiro) vem até chegar ao Monstruoso Mundo dos Monstros (MMM), lugar onde os monstros desenhados pelas crianças ganham vida”, explica.

“O que me atirou para esse trabalho foi que as diferenças são importante­s e falar disso para um público de 4 a 10 anos seria um desafio. E a história da Lali é essa: quando ela chega a um lugar onde não conhece ninguém, aí eles gostam dela, mas descobrem que ela é diferente, meio estranha, e tem sempre o malvado que vai estragar um pouco o astral, e eles ficam com medo dela.”

E encerra falando que a premissa do espetáculo é: “Cada vez que uma criança desenha um monstro, esse monstro ganha vida e vai para o monstruoso mundo dos monstros”.

Fizemos a opção pelo mais difícil, pois, se é para fazer teatro de bonecos, vamos tentar fazer o melhor”

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JOÃO CALDAS Espetáculo. Cenário e luz destacam bonecos manipulado­s

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