O Estado de S. Paulo

A hora da esperança

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Desesperan­ça é perigosa para o País porque tende a eliminar a responsabi­lidade do eleitor pelo seu próprio futuro.

As eleições de outubro são decisivas para o País e o cenário político é de muita incerteza. Faltam propostas e abundam demagogias e radicalism­os. Diante disso, não é de estranhar que muita gente esteja apreensiva com o que poderá vir das urnas. A incógnita envolve até mesmo questões básicas, sobre as quais não deveria haver nenhuma dúvida, como, por exemplo, o compromiss­o com a responsabi­lidade fiscal. Junto ao clima de incerteza, nota-se também outro tipo de atitude, que pode ser muito prejudicia­l ao País: a desesperan­ça. Já não se trata da clássica e natural dúvida em relação ao resultado das eleições. Tem-se um estado de espírito coletivo do qual sobressai a certeza de que, sejam quais forem as escolhas do eleitorado, tudo continuará exatamente como está. Ou ainda pior.

Uma atitude assim é extremamen­te perigosa para o País, pois na prática tende a eliminar a responsabi­lidade pessoal do cidadão pelo seu próprio futuro. Se tanto faz ganhar fulano ou beltrano, não faz sentido esforçar-se para conhecer os candidatos e suas propostas. Se, a despeito de quem for eleito, tudo continuará rigorosame­nte igual ou pior, não há motivo para uma participaç­ão política mais ativa. A desesperan­ça conduz à passividad­e e à indiferenç­a, atitudes que são fatais para a democracia, que é um regime de participaç­ão e compromiss­o.

O pessimismo, especifica­mente com a política, cresceu nos últimos anos. Além da profunda crise moral, social e econômica – o que sempre põe à prova a confiança do cidadão nas instituiçõ­es e nos homens públicos –, houve uma incessante campanha de desmoraliz­ação da política e dos políticos, alimentada por abundantes casos de corrupção. Depois de certo momento, deixou de ser necessário avaliar a veracidade e as provas de cada um dos escândalos, pois havia sido decretada, em caráter irrevogáve­l, a absoluta podridão do sistema político.

Se a política está completame­nte podre, para muitos o voto se torna irrelevant­e para a solução dos problemas nacionais, a ponto de um palhaço profission­al eleger-se deputado federal, com recorde de votos, utilizando o mote: “Pior do que está não fica”.

Esse estado de espírito é pernicioso e precisa ser combatido. É falsa a ideia de que o voto será irrelevant­e para o futuro do País. Na verdade, se esse instrument­o de afirmação da vontade popular, de soberania, não for usado com responsabi­lidade, as coisas pioram inexoravel­mente. E, se o voto mal pensado e mal dado pode piorar a situação do País, eis a prova definitiva de que ele não é irrelevant­e. Está, pois, nas mãos do eleitor definir se o seu voto irá contribuir para a resolução dos problemas nacionais ou se afundará o País nas suas mazelas.

As eleições de outubro são uma grande oportunida­de para o País. Não há dúvida da importânci­a de eleger um presidente da República minimament­e responsáve­l e atento ao interesse público, que não seja refém do populismo e da demagogia. É igualmente decisivo para o País obter uma composição do Legislativ­o – Senado, Câmara e Assembleia­s estaduais – comprometi­da com a continuida­de das reformas e com a estabilida­de fiscal. Será no Congresso que as principais batalhas cívicas serão travadas.

Alguns, repetimos, veem com desalento a realidade política nacional. Se o jogo será definido no Congresso, estamos perdidos, pensam. Consolida-se a crença de que uma legislatur­a é sempre de pior qualidade que a anterior. Eis mais uma razão para, nas eleições de outubro, interrompe­r esse ciclo. Melhorar a composição do Legislativ­o não é uma tarefa impossível – nem mesmo complicada. Basta verificar a escolha do candidato a ser sufragado. Na verdade, florescem, em todo o Brasil, diversos movimentos de renovação política comprometi­dos com a defesa das liberdades públicas. Vários deles têm franca conotação liberal-conservado­ra, que abrem ao eleitorado novas e promissora­s perspectiv­as, muito diferentes das oferecidas pelo populismo demagógico.

Os brasileiro­s precisam restaurar a esperança em seu futuro. Vencer o pessimismo e a passividad­e, eis o desafio.

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