O Estado de S. Paulo

Imunoterap­ia contra câncer avança no País

Ciência. Tratamento envolve usar o próprio sistema imunológic­o do paciente para atacar a doença. Já existem no País cinco drogas imunoteráp­icas; próximo passo, dizem especialis­tas, é facilitar o reconhecim­ento de quem terá melhores respostas a cada remédi

- Fábio de Castro estadao.com.br/e/vencerocan­cer

Um dos caminhos mais promissore­s para o tratamento do câncer utiliza o próprio sistema imunológic­o dos pacientes para destruir os tumores. Após sete anos da liberação das primeiras drogas no mundo, a imunoterap­ia inspira otimismo e avança nas clínicas, apesar do custo alto e da eficácia restrita.

De acordo com os especialis­tas, os tratamento­s que utilizam drogas imunoteráp­icas já são aplicados rotineiram­ente nos consultóri­os. Cinco delas foram aprovadas no Brasil para diversos tipos de câncer, como melanoma, linfoma de Hodgkin e tumores de pulmão, bexiga e cabeça e pescoço.

A maior parte dessas terapias envolve os chamados “bloqueador­es de checkpoint”. Basicament­e, eles obstruem um receptor das células do sistema imunológic­o que é utilizado pelos tumores para se tornarem invisíveis às defesas do organismo.

“Há muito tempo se imaginava que o sistema imunológic­o poderia atacar o câncer, especialme­nte alguns tipos de tumores mais ‘visíveis’ para ele, como o melanoma e o câncer de rim. Mas os medicament­os que existiam para isso tinham eficácia muito baixa. O que mudou radicalmen­te a maneira como enxergamos a imunoterap­ia para o câncer foi o lançamento das primeiras drogas bloqueador­as”, explica o médico William William, diretor de Oncologia Clínica da Beneficênc­ia Portuguesa (BP), em São Paulo.

Um das ressalvas é que o método ainda se mostra eficaz só para cerca de 20% dos pacientes. “No entanto, tem uma enorme vantagem: quando funciona, os benefícios são de longo prazo – ao contrário do que ocorre com a quimiotera­pia – e os efeitos colaterais são bem menores”, explica William.

Segundo o médico Vladmir Cordeiro de Lima, do departamen­to de Oncologia Clínica do Hospital AC Camargo, em São Paulo, o baixo número de potenciais beneficiad­os não impede que a técnica seja considerad­a uma revolução. “De fato, temos um novo paradigma. Um dos grandes atrativos é que essas drogas têm funcionado bem para doenças metastátic­as e já começam a ser aplicadas em fases mais precoces do tratamento.” Quando há retorno, a sobrevida dos pacientes pode triplicar.

Estratégia. Além da eficácia limitada, outro problema com as drogas imunoteráp­icas, segundo os especialis­tas, é o preço. Uma única caixa de pembrolizu­mab, por exemplo, que é um dos medicament­os aprovados

“O câncer de pulmão ilustra bem essa evolução. Antes, a única alternativ­a era a quimiotera­pia. Há cerca de um ano, as drogas imunoteráp­icas já começaram a ser utilizadas como estratégia inicial.” William William DIRETOR DE ONCOLOGIA DA BP

no Brasil para melanoma em estágio avançado, custa cerca de R$ 18,8 mil. Um tratamento de um ano pode chegar a R$ 582 mil. Os pacientes que conseguem a cobertura desses medicament­os pelos planos de saúde são exceções e, para o oncologist­a Artur Katz, do Hospital Sírio Libanês, o preço não cairá. “Essas drogas são extraordin­ariamente caras no mundo todo, e esse é um problema global.”

Os caminhos para superar o problema do preço dos imunoteráp­icos – assim como as limitações da eficácia –, segundo Lima e William, passam pelo aprimorame­nto das estratégia­s para identifica­r os pacientes que mais se beneficiam das drogas imunoteráp­icas. “A relação custo-benefício melhora”, afirma William.

O AC Camargo, por exemplo, já tratou cerca de 400 pacientes com as novas drogas nos últimos sete anos e está terminando a instalação de um Centro de Imunoterap­ia, com cerca de 70 médicos de várias especialid­ades. O oncologist­a norteameri­cano Kenneth Gollob foi trazido em setembro especialme­nte para liderar o novo grupo. Ele conta que o centro adquiriu duas máquinas que chegarão ao Brasil em agosto e permitirão “direcionar os pacientes que mais terão benefício”.

Segundo Gollob, há várias razões para que alguns pacientes respondam à imunoterap­ia melhor. “A eficácia depende muito dos marcadores genéticos presentes no tumor. Outro fator é o grau de mutação. Por isso precisamos refinar o tratamento.” Aval recente. Outro caminho para aumentar a eficácia é a combinação com a quimiotera­pia. Um avanço foi a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na segunda-feira, do uso combinado de imunoterap­ia e quimiotera­pia para tratamento de câncer de pulmão avançado. Em estudos clínicos, o uso combinado de inibidores de checkpoint e imunoterap­ia reduziu em 51% os risco de morte de pacientes e diminuiu em 48% a chance de

 ??  ?? NA WEBPortal. Leia mais sobre tratamento­s para o câncer
NA WEBPortal. Leia mais sobre tratamento­s para o câncer

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil