O Estado de S. Paulo

ANTIPETISM­O DIVIDE BASES DOS TUCANOS NO ESTADO

Apoiadores do PSDB divergem sobre rival e não veem consenso na estratégia de Alckmin

- Pedro Venceslau Adriana Ferraz

Apersisten­te divisão interna que se tornou uma marca do PSDB não se restringe aos caciques do partido. Também não há consenso na base da militância tucana. A dois meses do começo oficial da campanha, apoiadores da sigla divergem sobre qual a melhor estratégia, posicionam­ento e discurso para tirar o ex-governador Geraldo Alckmin da desconfort­ável posição nas pesquisas de intenção de voto – nos levantamen­tos mais recentes, ele registrou entre 7% e 10%. Estes números representa­m o pior desempenho de um candidato da legenda desde 1989, quando Mário Covas disputou a Presidênci­a.

Há de tudo no mosaico de grupos que atuam internamen­te: uma corrente chamada Esquerda para Valer, que vê Cuba com simpatia, outra chamada Ação Popular, uma homenagem a facção de José Serra nos anos 1970, e grupos mais à direita como o Conexão 45, de viés liberal e próximo ao ex-prefeito João Doria, pré-candidato ao governo.

O ponto central da discórdia nesse momento é sobre a postura diante do principal adversário do partido nas últimas eleições: adotar o antipetism­o para se contrapor ao líder das pesquisas, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), ou se aproximar do arquirriva­l para buscar o voto útil?

Para medir a temperatur­a do debate interno, o Estado reuniu na sede do PSDB paulista um grupo de militantes tucanos formado por lideranças que atuam em várias frentes: de diretórios na periferia ao movimento estudantil e alas LGTB, Tucanafro e PSDB Mulheres.

“Temos responsabi­lidade de dialogar com o PT. No segundo turno, se houver uma disputa com Jair Bolsonaro, não pode ter petista em casa dizendo que não vota em tucano, e tucano dizendo que não vota em petista”, disse Fernando Guimarães, um dos fundadores do Esquerda para Valer.

A afirmação elevou o clima do debate. “Isso me dá dor de

estômago. Eu nunca dialogaria com o PT”, respondeu Luciana Reale. Filha do jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachmen­t de Dilma Rousseff, ela foi uma das fundadoras do Vem Pra Rua, organizaçã­o que liderou o movimento pelo afastament­o da petista.

A conversa se transformo­u então em um bate-boca entre representa­ntes dos “extremos” do PSDB. Integrante do Diversidad­e Tucana, Wagner Gui Tronolone conseguiu se fazer ouvir ao dizer que a polarizaçã­o entre PSDB e PT se “fragmentou” após a “queda” do PT. “Qualquer candidato do PSDB era uma referência anti-PT. Hoje esse quadro não existe mais. O cenário atual parece com o da eleição de 1989”, afirmou.

Naquele ano, os candidatos do centro se dividiram – o tucano Mário Covas entre eles. O petista Luiz Inácio Lula da Silva e o então desconheci­do “caçador de marajás”, o ex-governador de Alagoas Fernando Collor de Mello, foram para o segundo turno.

FHC. O posicionam­ento político dos tucanos no espectro partidário também foi motivo de controvérs­ia. Parte do grupo classifica a sigla como de esquerda. “O PSDB conceitual­mente é um partido de esquerda. O legado de Fernando Henrique Cardoso é de esquerda. Mas na bancada federal do partido nos último quatro anos houve movimentaç­ões com posições predominan­temente de centro-direita. Isso destoa da história do PSDB”, afirmou Guimarães, do Esquerda para Valer.

Guimarães disse ainda que considera Doria um político de “extrema-direita”. “O tucano histórico nunca foi antipetist­a. Não há a menor hipótese de apoiar uma candidatur­a que representa o fascismo, como Bolsonaro”, afirmou.

Já o administra­dor Flávio Beall, que também integra o Vem Pra Rua, sorriu ao ouvir o colega tucano. E reagiu: “É claro que não. Ele não sabe nem o que é fascismo para falar uma bobagem dessa”. Ainda segundo Beall, o eleitor do PSDB perdeu “identidade” com o partido. Muitos tucanos, diz ele, migraram para o Novo ou Bolsonaro. “O Bolsonaro sempre votou com o PT”, reagiu Tronolone, da Diversidad­e Tucana.

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FOTOS: VALERIA GONÇALVEZ/ESTADÃO Discussão. Os militantes Nelson Botton, José Roberto Lima, Flávio Beall e Luciana Reale na sede do PSDB de São Paulo
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Mosaico. Apoiadores do PSDB vão da esquerda aos liberais

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