O Estado de S. Paulo

Divergênci­as no centro após manifesto dificultam união

Cristovam Buarque diz enxergar ‘vazio político’ no horizonte e admite ter dúvidas sobre viabilidad­e eleitoral de Alckmin

- Vera Rosa

Apresentad­a em gabinetes do governo e do Congresso Nacional como solução para enfrentar a instabilid­ade política, a aliança entre partidos de centro nas eleições presidenci­ais está cada vez mais difícil de sair do papel. Agora, até mesmo idealizado­res do chamado manifesto “Por um Polo Democrátic­o e Reformista” começam a divergir sobre o que fazer diante da apatia que tomou conta das précampanh­as do bloco, ao mesmo tempo em que líderes do MDB e do DEM também buscam alternativ­as políticas para se reposicion­ar na disputa eleitoral deste ano.

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), por exemplo, afirma enxergar um “vazio político” no horizonte e admite ter dúvidas sobre a musculatur­a do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidênci­a, para chegar à segunda rodada da disputa. Um dos formulador­es do manifesto, Cristovam propõe que o documento – que foi chancelado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso –, seja substituíd­o pela indicação de um candidato do grupo supraparti­dário.

“Não podemos negar o fracasso daquele manifesto, que faz um apelo pela união do centro nas eleições. Então, já que não conseguimo­s unir ninguém, devemos escolher um nome”, disse Cristovam ao Estado. “Temos de indicar logo alguém que tenha chance de ir para o segundo turno”, acrescento­u ele.

Embora o PPS apoie Alckmin na corrida à Presidênci­a, o senador não escondeu a preocupaçã­o com a viabilidad­e eleitoral do tucano. “O Alckmin mesmo está passando essa dúvida. Ele precisa demonstrar logo que tem condições de crescer”, argumentou. Já existem alas do

“Se Trump e Kim fizeram encontro para desarmar as bombas atômicas deles, como a gente não consegue desarmar as nossas, que estão aí explodindo?” Cristovam Buarque SENADOR (PPS-DF)

PPS que passaram a pregar, por exemplo, uma aproximaçã­o com a pré-candidata da Rede, Marina Silva.

A posição de Cristovam, que já enviou propostas sobre educação para o programa do tucano, provocou contraried­ade no PSDB num momento em que até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já defendeu conversas com Marina. Após o mal-estar com Alckmin, Fernando Henrique gravou um vídeo cheio de elogios ao ex-governador

e vai participar de nova divulgação do manifesto – lançado recentemen­te numa cerimônia esvaziada, em Brasília –, o que está programado para o próximo dia 28, em São Paulo.

No vídeo, Fernando Henrique se referiu a Alckmin como “um homem preparado”. “É um homem que sabe que é preciso olhar para o gasto público, mas ele sobretudo é um homem pessoalmen­te simples, um homem ligado à população.”

“O espírito do nosso movimento é o de ajudar na construção de pontes. Queremos ser o fermento, mas não é nosso papel indicar um candidato de centro. Isso cabe aos partidos”, reagiu o deputado Marcus Pestana (MG), secretário-geral do PSDB e um dos redatores do documento, hoje alvo de críticas.

‘Bombas’. Cristovam discorda e acha que é preciso uma ação

mais contundent­e, para criar um fato político. “Estamos entre a catástrofe e o desastre nas eleições”, insistiu. “Se (Donald) Trump e Kim (Jong-un) fizeram um encontro para desarmar as bombas atômicas deles, como a gente não consegue desarmar as nossas bombas, que estão aí explodindo todos os dias?”, questionou ele, numa referência à reunião histórica entre o presidente americano e o ditador da Coreia do Norte, na semana passada em Cingapura.

Na quarta-feira, Cristovam chegou a encaminhar uma carta ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), na qual defendeu a convocação de “um grande encontro de lideranças” para a discussão de um pacto que permita “superar o vazio político”.

A proposta, considerad­a utópica, prevê o reconhecim­ento dos erros cometidos por cada partido, ao longo dos últimos anos, além da identifica­ção de pontos que possam servir de compromiss­o público para a travessia dos próximos meses – ao menos até as eleições de outubro.

“O Brasil apresenta todos os sintomas de uma crise em marcha para desagregaç­ão social”, diz um trecho da carta, a qual o Estado teve acesso. “Em condições normais, as poucas semanas que nos separam das eleições seriam motivo de otimismo. Mas as atuais condições, a violência generaliza­da, o sectarismo político, a desconfian­ça moral e a perplexida­de intelectua­l apontam as eleições como um fator de perturbaçã­o, mais do que de esperança”, acrescenta o documento.

ELIANE CANTANHÊDE A coluna volta a ser publicada no dia 26

 ?? MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO-3/8/2017 ?? Documento. Cristovam foi um dos idealizado­res de ‘Por um Polo Democrátic­o e Reformista’
MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO-3/8/2017 Documento. Cristovam foi um dos idealizado­res de ‘Por um Polo Democrátic­o e Reformista’

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