O Estado de S. Paulo

Centro refém do Centrão

- E-MAIL: VERA.MAGALHAES@ESTADAO.COM TWITTER: @VERAMAGALH­AES POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/VERA-MAGALHAES/

Atão procurada e até aqui difícil de encontrar união do centro, descrito pelos seus ideólogos como um lugar de convergênc­ia de ideais democrátic­os e de uma agenda reformista para o País, esbarra na força do Centrão, assim com maiúscula e no aumentativ­o, um conglomera­do de partidos com menos propósitos edificante­s – mas muito mais força real. Intelectua­is podem assinar quantos manifestos quiserem, mas essa união só se dará quando e se o tal Centrão entender que é este o caminho mais adequado para a sua sobrevivên­cia política.

O que hoje se chama de Centrão é um grupo de partidos que se articulou em torno da liderança de Eduardo Cunha. Era integrado por partidos da base de Dilma Rousseff, mas, sob o comando do então todo-poderoso da Câmara, foi decisivo para seu impeachmen­t.

No pós-Dilma e pós-Cunha, quem herdou a chave foi Rodrigo Maia, que contou com o Centrão para de eleger duas vezes presidente da Câmara e já tem com ele apalavrada sua terceira condução, caso seja reeleito deputado.

Mas o fenômeno não é novo: já houve outros centrões, a começar do que atuou na Constituin­te. Como o vírus da gripe, ele muda de conformaçã­o ano a ano, mas segue poderoso e difícil de combater.

Quem bem definiu a dependênci­a dos grandes partidos dessa massa amorfa foi Fernando Henrique Cardoso. Em 2005, em diálogo com o então petista Cristovam Buarque para a revista do Centro Brasileiro de Estudos LatinoAmer­icanos, ele disse que a disputa entre PT e PSDB não era ideológica, mas por poder, pelo comando. “Os dois partidos que têm capacidade de liderança são o PT e o PSDB. No fundo, nós disputamos quem é que comanda o atraso.”

Treze anos e três eleições depois, o País se encaminha às urnas com os dois partidos que tinham a “capacidade de liderança” profundame­nte combalidos pela Lava Jato, juntamente com o MDB, que perdeu o P e boa parte da força no caminho. A ponto de não mais comandarem o tal atraso, mas mendigarem seu apoio para ter alguma viabilidad­e eleitoral. Foi assim com Lula e Dilma pateticame­nte tentando comprar votos em quartos de hotel para tentar impedir o impeachmen­t.

E não é diferente da negociação real, para além dos manifestos bem-intenciona­dos, da aliança que se busca no tal centro, que na verdade é refém do Centrão virulento. DEM, PP, PRB, PR Pros, Solidaried­ade e outras legendas ainda menores e mais indistinta­s tentam negociar em bloco para onde levar seu tempo de TV e sua capilarida­de na mais importante e imprevisív­el sucessão presidenci­al das últimas décadas.

Alheios aos grandes temas propostos pelos que buscam a união do centro – reforma da Previdênci­a, ajuste fiscal, garantias institucio­nais –, os partidos do Centrão olham pesquisas, arranjos regionais e cifras dos fundos públicos que lhes abastecem as burras antes de decidir para onde ir.

O objetivo não é escolher aquele mais comprometi­do com a tal agenda reformista, mas o que tenha mais “cheiro de poder”, como o presidente do PP, Ciro Nogueira, definiu para os colegas de conglomera­do numa reunião nesta semana, segundo um dos participan­tes.

Por ora, eles não sentem esse odor exalando de Geraldo Alckmin, o tucano da vez. Buscam ainda opções de proveta, como Josué Gomes, do PR, e avaliam até Ciro Gomes – que não comunga com muitos dos itens da tal pauta do centro – justamente porque Alckmin lhes parece inodoro demais. O cálculo pragmático pode até fazer com que o Centrão se divida em organismos menores na campanha, cada um atendendo à própria conveniênc­ia. Mas uma coisa é certa: vença quem vencer, ele estará de volta, forte e necessário, em 2019. O que FHC não previu, mas aconteceu, é que hoje é o atraso que está no comando.

União de forças depende do grupo, mas, vença quem vencer, ele estará de volta em 2019

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil