O Estado de S. Paulo

Dia D na Colômbia

Conservado­r, Iván Duque é favorito em eleição.

-

126 milhões de americanos viram posts falsos no Facebook durante a campanha que levou Trump ao poder

Até recentemen­te, Iván Duque, favorito para vencer hoje o segundo turno da eleição presidenci­al da Colômbia, vivia uma vida tranquila em Washington: tinha um apartament­o espaçoso onde morava com a mulher e um bom emprego em um banco internacio­nal. Até que se tornou protegido do ex-presidente Álvaro Uribe e sua carreira política decolou.

Nos últimos quatro anos, Duque passou de tecnocrata desconheci­do a senador popular. No entanto, uma pergunta o persegue na campanha: ele é ou não uma marionete de Uribe? “O temor é grande”, disse Iván Cepeda, senador de esquerda que apoia o ex-guerrilhei­ro e rival Gustavo Petro. “O governo de Uribe violou mais direitos humanos do que muitos governos anteriores juntos. Até onde Duque conseguirá se distanciar dele?”

Segundo pesquisas, Duque, de 41 anos, tem vantagem que vai de 6 a 20 pontos porcentuai­s sobre Petro. Quem for eleito hoje governará um país que acabou de firmar um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia (Farc) e registra um cresciment­o na produção de coca e da violência em áreas deixadas pela guerrilha.

Petro prometeu apoiar o acordo, mas Duque afirma que fará mudanças, como não permitir que ex-líderes da guerrilha assumam cargos políticos enquanto não confessare­m seus crimes – ideias que seus rivais dizem ameaçar o pacto.

As críticas de Duque aos líderes das Farc são as mesmas de Uribe, embora nas últimas semanas ele tenha abrandado suas posições. Por exemplo, ele deixou de lado um plano para derrubar a anistia para ex-combatente­s envolvidos no tráfico de drogas e manifestou apoio a ex-guerrilhei­ros que querem retornar à vida civil. Embora Uribe seja elogiado por enfraquece­r as Farc durante seu governo, os críticos dizem que seus sucessos foram garantidos à custa de abusos de direitos humanos por parte do Exército.

Amizade. Amigos dizem que Duque e Uribe estreitara­m a amizade nos EUA. Depois de deixar a presidênci­a, em 2010, Uribe foi convidado a lecionar na Universida­de Georgetown, na capital americana, e escolheu Duque para seu assistente.

Mudanças • “É hora de exigir que modificaçõ­es sejam feitas (no acordo de paz). De maneira que a paz seja consolidad­a com base na justiça e não na impunidade” Iván Duque CANDIDATO DO CENTRO DEMOCRÁTIC­O

Duque trabalhou com Uribe em uma investigaç­ão da ONU sobre o ataque de Israel contra uma flotilha humanitári­a que se dirigia à Faixa de Gaza e ajudou o ex-presidente a escrever suas memórias. Assim, em 2014, Uribe o convidou para voltar ao país e se candidatar ao Senado.

Eleito, Duque ganhou a reputação de radical em segurança e simpático aos mercados, mas reconhecid­o como pessoa amigável que conquistou o respeito dos adversário­s. Gloria Ramí- rez, estrategis­ta que trabalhou com os dois políticos, nega que Duque seja uma marionete de Uribe. “Ele não vai se envolver em nada se Iván não pedir”, disse Gloria, referindo-se a Uribe.

Críticos, porém, temem que Uribe use sua influência para re- taliar inimigos e arquivar as in- vestigaçõe­s contra ele por vín- culos com paramilita­res. Em março, Uribe atacou o jornalis- ta Daniel Coronell, alertando-o que, no governo Duque, as licen- ças de transmissã­o seriam ree- xaminadas – comentário­s vis- tos como uma ameaça à liberda- de de imprensa. Duque nunca condenou as ameaças de Uribe.

Para analistas, a campanha polarizado­ra que colocou Duque como um conservado­r radical frente a um esquerdist­a radical não mostrou as posições mais moderadas dos dois. “Os eleito- res têm sorte de que uma pes- soa que vem da direita colombia- na, com frequência torpe e cri- minosa, seja um jovem inova- dor livre do peso de algumas das batalhas”, disse Brian Winter, editor da revista Americas Quar- terly, que escreveu com Duque as memórias de Uribe. Os candidatos Iván Duque (E) e Gustavo Petro (D) durante debate

 ??  ??
 ?? CARLOS JULIO MARTINEZ/REUTERS-8/5/2018 ?? Corrida.
CARLOS JULIO MARTINEZ/REUTERS-8/5/2018 Corrida.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil