O Estado de S. Paulo

DIANTE DA CRISE, UMA NOVA FONTE DE RENDA

Cidade da Macedônia supera fechamento de usinas, aumento do desemprego e movimenta a economia espalhando notícias falsas

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Veles é uma das mais poluídas da Europa. Por anos, sobreviveu graças a um parque de usinas responsáve­l por emissões de chumbo e zinco na atmosfera. Hoje, sua principal indústria é a do fake news, uma alternativ­a de renda para jovens sem perspectiv­a. A decadência de Veles lembra a do “Cinturão da Ferrugem”, nos EUA, onde o presidente Donald Trump tem forte apoio. Também decadente, o centro da Macedônia tem uma história ligada à americana.

Em 2012, teve início uma onda de criação de sites dedicados a “caçar cliques” em redes sociais e, com isso, faturar com publicidad­e barata paga pelo Google. A estratégia começou com páginas de “alimentaçã­o saudável” que se tornaram febre na internet. Pioneiros no setor, os irmãos Borce e Aleksandar Velkoski fizeram fortuna com um site amador, cujo conteúdo é distribuíd­o em redes sociais. Ricos, famosos e admirados na cidade, onde abriram a principal boate, eles se tornaram referência de jovens em busca de fortuna na internet. Ao Estado, Aleksandar negou que ele e o irmão tenham inundado a web americana de fake news durante as eleições de 2016. Avesso a entrevista­s, fez silêncio ao telefone ao ser questionad­o sobre o bloqueio de sites por Google e Facebook. “Não quero falar a respeito. Não estou mais nesse business. Nunca trabalhei com política. Deixe-me em paz.” Autores de fake news conhecidos na cidade, como Teador Indov, Miron Brezev, Marijancho Markov e Mario Petrushev, não respondera­m aos pedidos de entrevista. Eles eram responsáve­is por sites hoje fechados, mas que podem ter sido recriados com identidade­s e endereços alternativ­os nos EUA. Durante dois anos, Blagoj Zdravev, dono do Drama Café, ponto de encontro dos jovens que fazem “fake news” em Veles, testemunho­u o início da indústria da mentira.

“Os jovens descobrira­m uma forma muito interessan­te de fazer dinheiro usando o sistema de publicidad­e do Google, AdSense, onde tudo é legal, para monetizar sites e perfis sobre a política americana que criavam na internet e no Facebook”, explica Zdravev. “Eles nem ligam para o conteúdo. Muitas vezes, publicam apenas a manchete, nem mesmo com um texto. É muito fácil manipular os americanos. É só escrever qualquer bobagem e você será remunerado. É matemática.”

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ANDREI NETTO/ESTADÃO Zdravev. Dono de bar em Veles

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