O Estado de S. Paulo

A grande família da Islândia, um país em que quase todos se conhecem e se gostam.

Na torcida islandesa, todo mundo conhece pessoalmen­te algum dos jogadores e tem até ex-namorada

- Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL/ MOSCOU FELIPE TRUEBA/EFE

Eles são vizinhos, colegas de classe, cunhados, inimigos políticos e até ex-namorados. Mas, na Copa do Mundo, são os representa­nte de um país minúsculo onde praticamen­te todos se conhecem. Com apenas 350 mil habitantes e um punhado de jogadores profission­ais, a Islândia vive uma situação em que a torcida não apenas vai ao estádio para apoiar seu país. Mas também para apoiar seus amigos de infância.

Ao terminar o primeiro jogo da história de uma Copa para o grupo com um empate contra a potência argentina, os jogadores escandinav­os saltaram as barreiras para se jogar nos braços da torcida. Ao lado da reportagem, um islandês gritava o nome do atacante que havia feito o gol, Finnbogaso­n, para depois receber um abraço do herói do dia. “Sou amigo dele desde os 7 anos de idade”, explicou, emocionado, orgulhoso e nem tão sóbrio.

O próprio treinador, Heimir Hallgrimss­on, contou que percorreu os bares de sua cidade natal antes do início da Copa para criar um sentimento de cumplicida­de entre a população local e seus jogadores.

Mas, para a torcida que foi até Moscou, isso nem mesmo seria necessário. “Eu era colega de escola de dois dos jogadores da seleção. É incrível que hoje vejo eles jogando contra Messi”, comentou Sveinn, um torcedor islandês na porta do estádio do Spartak, onde foi realizado o jogo que terminou em 1 a 1.

Sveinn frequentav­a desde criança as mesmas salas de aula que Finnbogaso­n e Sigurdsson, dois dos principais titulares do time dos “vikings” e novos heróis nacionais. “Tenho histórias muito boas dos dois. Mas acho melhor nem falar”, contou, entre risos.

O jovem Albert Freyr Eiriksson viajou com a família de sete pessoas para ver sua seleção entrar em campo em Moscou. Mas sabe como poucos o que o time tem como potencial. “Joguei por muito tempo com um deles, Traustason”, afirmou. “Ele é um atacante muito bom e que pode dar trabalho.” Seu pai ainda ironizou que o filho só não estava na seleção por ter sofrido uma contusão no joelho.

Anna, que trabalha como advogada, ainda conta que Arnason era seu vizinho antes de ir jogar num clube da Escócia. “Mas continuamo­s amigos dos seus pais e ele sempre nos manda notícias”, disse.

Primeiro amor.

No caminho para o primeiro jogo da história da Islândia numa Copa, as irmãs Helga e Carolina chegaram a ficar envergonha­das quando a reportagem perguntou se elas conheciam pessoalmen­te alguns dos jogadores. “Um deles foi meu primeiro namorado”, contou Helga, que preferiu não revelar sobre quem se referia.

Um senhor que não estava longe das meninas interveio para explicar que a torcida que tinha viajado para a Rússia não era “apenas uma torcida”. “Somos um país-família”, disse. “Se eu não conheço cada um deles pessoalmen­te, eu certamente sei quem são seus tios, primos ou parentes”, contou.

“Eu posso dizer tranquilam­ente que conheço uns dez dos 23 jogadores que estão na Rússia”, afirmou o empresário Sigurdarso­n, que viajou para Moscou acompanhad­o da mulher e da filha. “Isso cria algo mágico entre nós e os jogadores.”

Aron Gunnarsson, o capitão, confirma essa relação “especial”. “Essa é uma das poucas vantagens de ser pequeno. Mas posso dizer que temos os melhores torcedores do mundo”, garantiu. “Conhecemos nossos fãs e essa proximidad­e nos dá confiança”, disse o treinador da Islândia, Heimir Hallgrimss­on. “Isso mostra unidade e o respeito que podemos receber.”

A Islândia volta a entrar em campo na sexta-feira, às 12h, contra a Nigéria, em Volgogrado.

Na bronca.

Quem não foi e não irá em nenhum momento para a Rússia serão os políticos islandeses. Num gesto para deixar claro a oposição ao governo de Vladimir Putin, as autoridade­s da pequena ilha à beira do Ártico decidiram em bloco que abririam mão da emoção de estar nos jogos para dar uma declaração diplomátic­a de desagravo ao Kremlin.

Eu era colega de dois jogadores da seleção. É incrível vê-los jogando contra o Messi Sveinn, TORCEDOR ISLANDÊS Conhecemos nossos torcedores e essa proximidad­e nos dá confiança Heimir Hallgrimss­on, TÉCNICO DA ISLÂNDIA

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Apoio. Torcida da Islândia comparece em peso para vibrar pelos jogadores do país

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