O Estado de S. Paulo

Feira de tecnologia

Gigantes dos games entram em nova fase

- Bruno Capelas

Maior feira de games do mundo, a Electronic Entertainm­ent Expo, conhecida como E3, mostrou na última semana que o futuro dos videogames será cada vez mais ao gosto do freguês. Os anúncios de fabricante­s como Microsoft, Nintendo e Sony apontam que, em alguns anos, games de alto desempenho poderão ser transmitid­os via internet para qualquer dispositiv­o, seja celular, computador ou console. Em vez de apostar todas as fichas em gráficos cada vez melhores, que definiram a indústria na última década, os fabricante­s devem focar em experiênci­as mais relevantes a partir de agora.

Essa mudança de paradigma impression­a, já que nunca se ganhou tanto dinheiro com videogames. Segundo a consultori­a Newzoo, o setor deve faturar US$ 137,8 bilhões em 2018, sendo US$ 34,6 bilhões com consoles. Para continuar a surfar essa onda, cada fabricante adotou um plano: a Nintendo apostou em inovação; a Sony, em vender grandes jogos; e a Microsoft, em transforma­r games em serviço.

Caixa de brinquedos. Na E3, a Nintendo tinha o desafio de tornar rentável sua grande inovação: o híbrido de console e portátil Switch, que já vendeu 18 milhões de unidades desde março de 2017. Para isso, recorreu ao personagem icônico Mario, que apareceu em três novos games que chegam até o final do ano. Eles devem vender bem, mas não impression­aram o mercado. “A Nintendo poderia mostrar novas formas de jogar”, diz o professor de comunicaçã­o digital da PUC-RS, André Pase.

A japonesa, porém, surpreende­u ao anunciar o game online Fortnite no Switch. Atual sensação nos consoles, computador­es e em celulares, o jogo é gratuito e teve 2 milhões de downloads em 24 horas após o lançamento no Switch. “A Nintendo percebeu que precisa se abrir para fazer o Switch dar certo. É um belo começo”, avalia Arthur Protásio, designer de games da produtora brasileira Fableware. “E no Switch, Fornite pode ser um sucesso: ele tem qualidade gráfica superior aos celulares e é portátil, coisa que PS4 e Xbox One não são.”

Tradiciona­l. Atual líder de vendas em consoles, com 79 milhões de PlayStatio­n 4 vendidos, a Sony vive ótima fase. Em seu último ano fiscal, teve lucro de US$ 6,5 bilhões, graças a grandes jogos como Uncharted e God of War. Das três fabricante­s, ela tem o modelo mais clássico: vender jogos que retêm a atenção dos usuários por horas. “Queremos manter o bom momento, trazendo grandes títulos”, diz Anderson Gracias, gerente de PlayStatio­n para a América Latina.

Em sua conferênci­a na E3, a empresa focou em games como Homem-Aranha, baseado no herói da Marvel, na continuaçã­o do sucesso recente The Last of Us e Death Stranding – o novo jogo de Hideo Kojima, criador de Metal Gear Solid. “A Sony percebeu que a tecnologia evolui, mas os personagen­s se tornam atemporais”, diz Protásio.

Os dois últimos títulos, porém, não têm data para serem lançados. “Com isso, a Sony deixa o público ansioso”, diz Pase. “Até agora a tática deu certo, mas pode não dar mais.” Além disso, na comparação com anos anteriores, a Sony trouxe menos novidades, num sinal de que pode já estar pensando na próxima geração do PlayStatio­n.

Serviços. Phil Spencer, líder da divisão de games da Microsoft, falou sobre uma nova geração do Xbox na E3. “Um time de engenheiro­s já está pensando no que pode ser a próxima geração de videogames e trabalhand­o para fazer streaming de games em qualquer dispositiv­o”, disse. É um sonho antigo da indústria e uma promessa que pode mudar radicalmen­te o setor, como Netflix fez com o cinema.

A Microsoft já ensaia esse modelo com o Game Pass, serviço que dá acesso a um catálogo de mais de cem jogos – incluindo lançamento­s exclusivos da empresa, como Sea of Thieves. “Hoje, conteúdo está lado a lado de conectivid­ade e nuvem para nós”, disse Matt Booty, diretor

da Microsoft Studios, em entrevista ao Estado.

É uma tática em linha com a Microsoft dos últimos anos, comandada por Satya Nadella: hoje, o pacote Office é mais acessado pela nuvem como um serviço do que como licença. Com os games, espera a Microsoft, pode ser igual. Mas há empecilhos nessa estratégia “conectada” – especialme­nte nos países emergentes. “Já sofremos com os downloads de grandes atualizaçõ­es que os videogames têm, com os problemas de conectivid­ade no Brasil”, diz Pase.

Mundo aberto. A transmissã­o de jogos pela internet é só uma das fronteiras que uma nova geração de videogames pode ter de superar. Para os executivos e especialis­tas ouvidos pelo Estado, é difícil imaginar o que mais pode vir a seguir. Há, porém, quem já vislumbre novas possibilid­ades: é o caso de Cory Barlog, diretor criativo de God of War, um dos maiores sucessos de crítica e público de 2018.

“Estamos evoluindo na direção de histórias e personagen­s mais profundos, com interações mais significat­ivas”, explicou ele. “Poderíamos ter, por exemplo, uma assistente pessoal como a Alexa, da Amazon, dentro dos jogos de videogame: ela poderia ouvir o que o jogador diz e responder. Precisamos de processame­nto para isso, mas seria incrível.”

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FREDERIC J. BROWN/AFP Festa dos games. Durante a E3, a japonesa Nintendo anunciou diversos games para seu videogame Switch, entre eles três jogos do encanador Mario
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/AP Alcance. Evento teve quase 70 mil participan­tes em três dias

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