O mercado global e a ação do BC
O Brasil dispõe de boas condições para enfrentar o quadro internacional de turbulência decorrente do aumento do juro básico nos EUA e da perspectiva de novas altas nos próximos meses. Esse é o ponto central de análises internas e externas, como a do diretor para as Américas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner. “Sabemos que o Brasil possui uma posição muito sólida quanto às reservas e à força do Banco Central, que está bem posicionado para enfrentar a volatilidade”, disse Werner a Cláudia Trevisan, correspondente do Estado em Washington.
As pressões sobre o real e a reação do Banco Central (BC), que anunciou a disposição de realizar operações de swap (equivalente à venda de moeda externa a futuro), ficam mais bem explicadas com a divulgação de relatório do Instituto Internacional de Finanças (IIF). O texto mostrou que investidores retiraram em maio US$ 12,3 bilhões dos mercados emergentes, contra apenas US$ 300 milhões em abril. A metade saiu das carteiras de bônus de países emergentes e a outra metade de títulos de renda fixa e de ações.
Em maio, o saldo líquido das aplicações de estrangeiros na bolsa B3 foi negativo em R$ 8,43 bilhões e, nos quatro primeiros pregões de junho, saíram mais R$ 2 bilhões. Em 2017, houve entrada recorde em bolsa de R$ 14 bilhões, mas neste ano o saldo negativo já alcançou R$ 6,06 bilhões.
O vulto das reservas (US$ 382,1 bilhões) e a atuação clara do BC devem ser elementos decisivos para assegurar a preservação do equilíbrio externo, num momento em que o IIF vê na saída de recursos dos emergentes um comportamento “de manada”, em que a fuga de capital não é seletiva.
Se há fragilidade do Brasil, esta não vem do balanço de pagamentos, como ocorre em países como a Argentina e a Turquia, mas do quadro fiscal e do risco de que um candidato populista vença as eleições para presidente da República que serão realizadas em outubro próximo. A falta de compromisso de alguns candidatos – que inclusive têm aparecido bem nas pesquisas – com reformas essenciais, a começar da reforma previdenciária, provoca inquietação nos investidores locais e também nos investidores estrangeiros, que operam no longo prazo.