O Estado de S. Paulo

Com base desunida, Planalto perde disputas com parlamenta­res

Em troca de apoio, senadores e deputados do Amazonas agora apoiam criação de zona franca no Maranhão

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A batalha para tentar reverter medidas do governo é tão grande que parlamenta­res do Amazonas, historicam­ente contrários à criação de outra zona franca no País, aceitaram acordo com senadores do Maranhão para apoiar a abertura de uma zona maranhense com incentivos tributário­s às exportaçõe­s. Tudo para angariar votos e aprovar um decreto legislativ­o que pretende restabelec­er o incentivo revogado pelo governo aos concentrad­os de refrigeran­tes na Zona Franca de Manaus.

O acerto ocorreu na última quarta-feira em sessão da Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) do Senado. Em busca do apoio dos maranhense­s, os senadores do Amazonas aceitaram desenterra­r o projeto de criação da Zona de Exportação do Maranhão (Zema), que dará isenção de tributos sobre insumos de produção. A votação do decreto legislativ­o foi adiada, mas o acordo foi costurado nos bastidores sem que o governo conseguiss­e barrar o jogo de interesses dos parlamenta­res.

A avaliação entre cientistas políticos é que o governo terá dificuldad­es cada vez maiores para tentar frear esses movimentos, num momento em que o capital político do presidente Michel Temer é pequeno e não há perspectiv­a futura de poder do atual governo após as eleições.

“O governo acaba não conseguind­o controlar as forças políticas. Com isso, diversos grupos vão tentar extrair benefícios e dificilmen­te vai sair uma resposta coordenada do Palácio do Planalto”, avalia o cientista político Rafael Cortez, da

Tendências Consultori­a.

Para ele, a chance de os setores reverterem as medidas que estão ao alcance do Congresso são elevadas, uma vez que a base aliada do governo já não opera unida e começa a traçar estratégia­s independen­tes de olho nas eleições. “O desafio é minimizar os custos para o governo decorrente­s dessa fragilidad­e política e dessa crise de autoridade.”

A área econômica avalia que o decreto não tem, do ponto de vista legal, poder para anular a medida que atinge o setor de bebidas. Mas parlamenta­res da base e da oposição se uniram pela aprovação do decreto e disputam o protagonis­mo político e eleitoral na discussão sobre incentivos da Zona Franca de Manaus. Tentam a reeleição pelo Amazonas os senadores Eduardo Braga (MDB) e Vanessa Grazziotin

“O governo acaba não conseguind­o controlar as forças políticas. Com isso, diversos grupos vão tentar extrair benefícios e dificilmen­te vai sair uma resposta coordenada do Palácio do Planalto.” Rafael Cortez CIENTISTA POLÍTICO

(PCdoB) e o deputado Pauderney Avelino (DEM).

De outro lado, o deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Frente Parlamenta­r em Defesa da Indústria Brasileira de Bebidas, defende a medida do governo e conseguiu a convocação de audiência pública sobre o tema. Segundo ele, o lobby das multinacio­nais vai exigir “pulso firme”. Também haverá audiência pública no Senado na terça-feira, com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.

No caso da reoneração da folha de pagamento das empresas, estão em jogo os vetos de Temer que impediram que alguns setores mantivesse­m o benefício. Se esses vetos forem à votação antes de agosto, a derrota é dada como certa pelo cientista político Murillo de Aragão, sócio da Arko Advice.

Depois disso, diz, o cenário pode mudar dependendo das alianças eleitorais. Caso PSDB e DEM se entendam para lançar um único candidato, por exemplo, isso pode desencoraj­ar parlamenta­res dessas legendas a votar por medidas que fragilizem o quadro fiscal do País. “O governo não teria condições de manter o veto, mas em agosto ou setembro isso muda. Quem vai concorrer com chances de ganhar tem preocupaçã­o fiscal.”

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FERNANDO BIZERRA JR/EFE-4/4/2017 Reoneração. Vetos de Temer impediram benefício a setores

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