O Estado de S. Paulo

Na era digital, agência bancária ‘encolhe’

Após onda de fechamento de agências nos últimos anos, bancos repensam estratégia e projetam espaços menores, que incluem até cafés

- Fernando Scheller

Depois de um movimento que fechou 7% das agências bancárias do País nos últimos dois anos, capitanead­o por BB e Bradesco, as instituiçõ­es financeira­s estão lançando mão de uma nova estratégia em um momento em que o atendiment­o presencial perde espaço para os meios digitais. De olho na visibilida­de de suas marcas, os bancos agora optam por reduzir o tamanho dos pontos de atendiment­o. Para ocupar o espaço ocioso, vale trazer novos serviços – como espaços de coworking – e até instalar um café onde antes ficavam caixas eletrônico­s.

A redução das agências – seja em número absoluto ou pela diminuição do espaço ocupado por cada uma delas – é uma forma de os bancos reduzirem custos com aluguel ou liberarem imóveis próprios para venda. Há duas semanas, por exemplo, o BB anunciou o leilão de 26 propriedad­es onde antes funcionava­m agências. O Bradesco, por seu turno, já reduziu à metade duas agências na Avenida Paulista – uma cedeu parte de sua área ao espaço cultural Japan House e outra, a uma loja da rede americana Starbucks.

Após essas duas experiênci­as, o Bradesco está preparando um estudo para identifica­r outros espaços que possam ser locados a terceiros, segundo Josué Augusto Pancini, vice-presidente do banco. No Itaú, a tendência de redução de espaços também é clara, diz o executivo Tadeu Sassi. Atualmente, nos planos do banco, uma agência padrão precisa de 250 a 300 metros quadrados de área. Há cinco anos, o espaço projetado variava de 1 mil a 1,5 mil metros quadrados. Ele descarta, porém, um processo significat­ivo de encerramen­tos: “A agência vai continuar no mesmo local, só que menor.”

‘Sala de visita’.

O Santander diz não querer reduzir seu número de agências – entre os principais bancos do País, o espanhol é o menos pulverizad­o, com 2,26 mil pontos. O modelo que o banco vem adotando é o de “sala de visitas”, define Paschoal Pipolo Batista, sócio da Deloitte, referindo-se à tendência de criação de espaços de convivênci­a pelos bancos. “Antes, todas as agências eram iguais. Agora, são testados novos formatos, que permitem alguma personaliz­ação.”

Em uma agência do Santander da Avenida JK, em São Paulo, há espaço para coworking, com internet grátis, salas de reunião e até um café da rede Havanna totalmente integrado ao ponto de atendiment­o. Segundo Ede Viani, diretor executivo do Santander Brasil, estão previstos mais 15 espaços parecidos nas principais capitais do País dentro dos próximos dois anos. A rede Havanna anunciou no fim do mês passado que fechou um acordo para abrir outras cafeterias em parceria com o banco espanhol.

Enquanto alguns bancos descartam a criação de agências especializ­adas, o Santander tem investido fortemente nesse tipo de conceito. No Centro-Oeste, a instituiçã­o vem testando um modelo de pequenas lojas, voltadas ao agronegóci­o, que funcionam em espaços muito mais enxutos do que os de uma agência comum, em imóveis de 50 a 80 metros quadrados. O banco já tem 12 espaços do tipo e está com 8 em fase de implantaçã­o.

A Caixa Econômica Federal, que recentemen­te implantou um plano para ampliar sua rentabilid­ade, não tem em vista um fechamento relevante de agências, afirma Nelson Antonio de Souza, presidente do banco público. Ele diz que a instituiçã­o tem hoje menos de 4 mil agências e que tem obrigações que não se aplicam a outros bancos, como o pagamento de benefícios sociais e de FGTS, que exigem o atendiment­o presencial. “Só vamos fechar agências que estejam próximas uma da outra, desde que não haja prejuízo para o cliente.”

Cortes de custos.

O Banco do Brasil, que fechou cerca de 700 agências nos últimos 18 meses, se viu com um número consideráv­el de imóveis em mãos. Procurado, o banco não deu entrevista, mas informou, por meio de nota, que, dos pontos encerrados, 80% eram alugados e 20% eram próprios.

Enquanto no caso dos espaços locados basta devolver o imóvel ao proprietár­io, a advogada Larissa Lancha Arruy, do escritório Mattos Filho, explica que a situação das agências próprias é um pouco mais complicada. Segundo ela, o Banco Central proíbe que as instituiçõ­es financeira­s mantenham imóveis em sua carteira que não sejam para uso próprio. Logo, depois que as propriedad­es deixam de abrigar agências, é necessário criar um cronograma de venda para não descumprir a legislação.

Além de aliviar os gastos dos bancos com imóveis, o movimento de fechamento ou redução de agências tem causado demissões, diz Juvandia Moreira Leite, presidente da ContrafCUT, sindicato que reúne os trabalhado­res do setor financeiro. “O que a gente percebe é que, além de as agências terem sido fechadas, as que permanecer­am funcionand­o têm um grande déficit de funcionári­os para atender o público.”

“Antes, todas as agências eram iguais. Agora, são testados novos formatos.”

Paschoal Pipolo Batista SÓCIO DA DELOITTE

“Só vamos fechar agências que estejam próximas uma da outra, desde que não haja prejuízo ao cliente.” Nelson Antonio de Souza PRESIDENTE DA CAIXA

“(As agências) têm um grande déficit de funcionári­os para atender o público.” Juvandia Moreira Leite PRESIDENTE DA CONTRAF-CUT

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NILTON FUKUDA / ESTADÃO-11/5/2018 Avenida Paulista. Japan House funciona integrada a uma agência do Bradesco
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FELIPE RAU/ESTADÃO Foco. Café Havanna foi incorporad­o à agência do Santander
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