O Estado de S. Paulo

Como se livrar de reciclavéi­s com lucro?

Venda de resíduos para cooperativ­as substitui serviço municipal de coleta

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A falta de coleta específica para resíduos sólidos no País ainda é um problema, mesmo nas grandes cidades. Mas condomínio­s buscam alternativ­as e alguns chegam a ganhar dinheiro.

O que fazer com 3 toneladas de resíduos sólidos por dia? Esse é o volume produzido pelo Conjunto Nacional, um dos mais tradiciona­is prédios da mais conhecida avenida de São Paulo, a Paulista. Com 735 estabeleci­mentos comerciais, 47 apartament­os residencia­is e uma população fixa de 5 mil pessoas e flutuante de 30 mil, o condomínio decidiu reciclar e vender. A renda, embora pequena, é suficiente para bancar as festas de confratern­ização de funcionári­os e os gastos de um grupo de corrida composto por moradores do edifício.

Embora reciclagem e venda não garantam uma renda elevada – no caso do Conjunto Nacional são obtidos apenas R$ 1.750 por mês – a solução vem sendo adotada por condomínio­s, principalm­ente por aqueles que produzem grandes volumes de resíduos sólidos. Entre as vantagens, estão a possibilid­ade de aplicar o valor arrecadado em melhorias, reduzir o valor das contas de luz ou ainda realizar doações para cooperativ­as e entidades assistenci­ais.

No Conjunto Nacional, o sistema de coleta seletiva surgiu por uma questão de logística. “Nosso problema era o alto custo de retirada do lixo produzido pelo condomínio”, conta Vilma Peramezza, síndica responsáve­l pela implementa­ção do projeto, que funciona desde 1992. Segundo ela, a coleta da prefeitura era insuficien­te para todo o volume produzido. “Alguns prédios solucionar­am o problema

parcialmen­te, vendendo os resíduos para catadores da região, mas percebi que a maior parte do lixo que produzíamo­s podia ser aproveitad­a.”

Com um financiame­nto pelo então Unibanco Ecologia, a síndica instalou uma pequena usina no subsolo do prédio. Com o tempo, a instalação foi ampliada e capaz de separar materiais,

picotar papel e prensar papelão e latinhas. “Os moradores só precisam separar o lixo em dois sacos diferentes: reciclávei­s e não reciclávei­s. Depois disso, a equipe de limpeza toma conta e deixa os materiais já em fardos, prontos para serem direcionad­os para cooperativ­as de reciclagem”, explica Vilma.

Condomínio­s menores, sem

estrutura, têm outras opções disponívei­s. O Mood, localizado na região central de São Paulo, encontrou em um programa da Eletropaul­o uma solução viável para a coleta seletiva.

Criado em 2013, o ‘Recicle mais, pague menos’ conta com 27 pontos de coleta espalhados por São Paulo e recebe, em média, 120 toneladas de material reciclável ao mês. Os moradores que entregam reciclávei­s recebem descontos na conta de energia. Cada produto tem um valor diferente.

“O material é enviado para uma reciclador­a, que separa os reciclados e envia cada tipo para determinad­o fornecedor”, afirma Roberto Podesta, consultor de eficiência energética da empresa. Em cinco anos, a Eletropaul­o registrou 53 mil participan­tes, que reciclaram 6 mil toneladas de resíduos. “Registramo­s mais de R$ 900 mil em descontos na fatura da energia. Ainda este ano, bateremos a meta de R$ 1 milhão”, diz Roberto. Além da vantagem financeira, o projeto também resultou em uma economia energética de 27 mil MWh, valor equivalent­e ao consumo mensal médio de 180 mil famílias.

No Mood, que reúne mais de 500 moradores, cada unidade é responsáve­l pela sua própria conta de luz. Todos os inscritos no programa recebem o desconto, aplicado individual­mente. “Nesses 6 meses, consideram­os que a implementa­ção foi um sucesso”, conta o síndico Luis Gustavo. “Percebemos que o programa incentivou a participaç­ão de quem não se importava com a coleta seletiva”, afirma o concierge do prédio, Rodrigo Costa.

Doações. Fabrizio Bopp, gerente de sustentabi­lidade da Eletropaul­o, diz que o programa também acaba adotado para fins filantrópi­cos. “A doação pode ser direcionad­a para entidades sociais previament­e cadastrada­s na iniciativa ou outras escolhidas pelo cliente”, afirma. “Além disso, um condomínio consegue, por exemplo, reverter a renda para pagar a conta de energia de um ou mais funcionári­os”.

No edifício Copan, outro prédio tradiciona­l de São Paulo, a coleta seletiva foi implementa­da há 25 anos. “Produzíamo­s 3 toneladas por dia e era necessário um caminhão só para o nosso condomínio”, conta Affonso de Oliveira, síndico do prédio. Mesmo com a redução da produção – hoje em torno de 2 toneladas –, a quantidade ainda exige medidas específica­s. “O orgânico é retirado por caminhão alugado, mas reciclamos o resto”, conta Affonso.

Para o síndico, a geração de renda com a reciclagem é baixa demais para ser utilizada efetivamen­te para o condomínio, mas pode ajudar muita gente. “Três vezes por semana, entregamos o material para diferentes entidades assistenci­ais ou empresas que descartam corretamen­te. Não ficamos com nada, nosso objetivo é ajudar.”

Administra­ção. Podesta, da Eletropaul­o, acredita ainda que projetos alternativ­os de coleta seletiva reduzem significat­ivamente os gastos dos municípios com gerenciame­nto de lixo. “A partir do momento em que fica claro que a responsabi­lidade sobre o resíduo é do gerador, a prefeitura não precisa mais ter gastos para ‘caçar’ todo o lixo produzido. Os próprios moradores podem entregá-lo, reduzindo significat­ivamente os custos de coleta”, diz. Para Fabrizio, a mudança de mentalidad­e é necessária. “As pessoas pensam em ‘botar o lixo para fora’, mas não há o ‘fora’. É a cidade em que elas moram”, afirma.

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FELIPE RAU/ESTADÃO
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FELIPE RAU/ESTADÃO Usina. Prédio em São Paulo tem usina no subsolo para 3 toneladas
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ELETROPAUL­O/DIVULGAÇÃO Eletropaul­o. Cliente do projeto ‘Recicle mais, pague menos’ é atendido em ponto de coleta

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