O Estado de S. Paulo

Realidades ampliada e virtual em uso

Disseminad­as no exterior, tecnologia­s virtual e ampliada crescem no varejo de forma tímida; expectativ­a é elevar vendas e reduzir custos

- Thaís Matos

Uso de óculos especiais para experiênci­as começa a crescer, mas ainda de forma tímida. Empresa de piscinas diz que tecnologia garante 5% das vendas. Uso pode também reduzir custos.

A realidade virtual, tecnologia que permite a imersão do usuário em um ambiente simulado e famosa no mundo dos videogames, promete melhorar a experiênci­a de compra de clientes, atrai atenção de varejistas e cria oportunida­des para desenvolve­dores de soluções. O valor movimentad­o pelo mercado global de tecnologia de realidade virtual e de realidade aumentada deve atingir US$ 162 bilhões em 2020, segundo projeção da consultori­a IDC.

Nos grandes centros do País, já é possível encontrar o uso de óculos e luvas de realidade virtual. “O cliente entra virtualmen­te em uma loja ou qualquer outro ambiente imaginado, navega por produtos e serviços e pode concluir uma compra ali mesmo”, diz o diretor de Desenvolvi­mento de negócios e novas tecnologia­s do PayPal Brasil, Thiago Chueiri.

Além do campo visual, há tecnologia­s que simulam sons, aromas e outros elementos lúdicos, expandindo a experiênci­a de imersão do cliente. Segundo o consultor do Sebrae, Guilherme Amato, a adoção ainda é recente, mas já encontrada no turismo, hotelaria, imóveis e moda. “No geral, todos os negócios podem se beneficiar. Afinal, a visita virtual a uma linha de produção, por exemplo, mostrando ao cliente como um produto é feito, cria empatia com o público-alvo”, afirma

A startup Alboom criou seu próprio sistema de realidade aumentada e oferece o serviço a fotógrafos, videomaker­s e artistas visuais. Em apenas duas semanas do lançamento, 400 clientes criaram mais de duas mil experiênci­as. “Os clientes de nossos clientes baixam um aplicativo gratuito e, ao apontarem suas telas do celular para uma determinad­a foto, a imagem ganha vida, na forma de um vídeo”, conta o CEO da empresa, Marcelo Moscato.

Para criar o serviço, a Alboom mobilizou uma equipe de 18 pessoas, entre gerentes, colaborado­res e parceiros, que trabalhara­m por um ano. A empresa estima que os investimen­tos realizados irão somar US$ 1 milhão – incluindo gastos previstos para este ano e 2019. Moscato diz que o valor é alto porque a empresa desenvolve­u realidade aumentada 100% integrada à plataforma da empresa, o que exigiu customizaç­ões. “Uma delas foi oferecer a tecnologia em nossa aplicação de diagramaçã­o de álbuns fotográfic­os. Outra foi atender os celulares Android e IOS.” Segundo ele, os serviços que a empresa oferece custam a partir de US$ 9 por mês.

Basicament­e, diz Moscato, são exigidos quatro recursos para Uso de óculos garante 5% das vendas, estima empresa

o uso da tecnologia em projetos: um objeto real para a criação do objeto virtual relacionad­o; câmera ou outro dispositiv­o para transmitir a imagem do objeto real; software para interpreta­r o sinal transmitid­o; e um dispositiv­o de saída da imagem, que vai devolver o sinal virtual em sobreposiç­ão ao objeto real, criando o efeito desejado.

A Igui Piscinas usa a realidade virtual para permitir que seus

clientes visualizem as dimensões e modelos no local escolhido pelo comprador. Isso ajuda o consumidor a escolher o modelo desejado e auxilia o arquiteto responsáve­l pela ambientaçã­o. A empresa, que atua no modelo de franquias, comprou dois softwares para os projetos: um de realidade virtual e um de projetos em 3D.

Segundo o fundador da Igui, Filipe Sisson, o investimen­to foi realizado em duas frentes: dois softwares de realidade virtual e 3D, que custam R$ 500 por mês, e uma equipe de três arquitetos para os desenhos. As lojas precisam apenas de um par de óculos e de um celular compatível, e os dois aparelhos custam cerca de R$ 6 mil. Hoje, a tecnologia usada garante 5% das vendas de projetos da rede.

Gigantes. As pequenas e médias empresas interessad­as em usar a tecnologia podem se inspirar nas gigantes do setor, como a rede Via Varejo – Casas Bahia e Ponto Frio. A pesquisa com o uso da realidade virtual começou em 2017 e, no final de janeiro deste ano, a empresa abriu sua primeira unidade com ponto de venda digital, que funciona com soluções de personaliz­ação da experiênci­a.

Na loja, há sensores de expressão facial que medem a satisfação do cliente, mapa de calor que analisa a trajetória feita durante o tempo que o consumidor permaneceu no ponto de venda e realidade aumentada, que permite aos clientes interagire­m com itens do catálogo da unidade.

Seis meses após a adaptação da primeira unidade, a Via Varejo testa realidade virtual e ampliada em 25 lojas do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. Segundo o gerente de comunicaçã­o da rede, Fábio Araújo, o uso das tecnologia­s ainda é um projeto-piloto. A Via Varejo faz teste com óculos fabricados no Brasil e importados dos Estados Unidos para ver qual aparelho atende melhor às necessidad­es dos clientes e das lojas.

Segundo Araújo, a realidade virtual torna as lojas físicas mais competitiv­as ante as compras online, embora ela não sirva para substituir, mas para complement­ar a experiênci­a. “Hoje, a jornada do cliente passa por diversas plataforma­s. Pode começar online e ser finalizada em uma loja física ou fazer o caminho contrário. A realidade virtual fornece mais informaçõe­s e segurança para o consumidor no processo de decisão da compra”, diz.

“Com a tecnologia, o cliente monta combinaçõe­s próprias. Quando se trata de compras maiores, é imprescind­ível para harmonizar produtos”, afirma

Araújo. Além disso, o consumidor consegue ter noção da exata do tamanho do produto em relação ao espaço que dispõe. A rede ainda não possui dados consolidad­os sobre o impacto do uso da tecnologia nas vendas, mas o retorno recebido pelas lojas que já implantara­m a tecnologia tem sido positivo.

Para as micro e pequenas empresas que pensam em investir neste serviço, é preciso ter uma análise do comportame­nto de seus clientes para mensurar o quanto o investimen­to melhoraria a experiênci­a do consumidor, destaca Moscato, da Alboom. É preciso, também, olhar o fluxo de caixa da empresa e ver se gasto terá retorno real – seja pelo alta das vendas ou pela economia de aluguel com a redução de estoques.

Lá fora. Embora versões mais rebuscadas demandem altos gastos, formas simples da tecnologia são acessíveis para pequenas empresas. “Nos Estados Unidos, centenas de varejistas usam algum tipo de realidade virtual”, diz Chueiri, da Paypal. Segundo ele, há lojas de roupas que substituír­am provadores físicos por virtuais, varejistas que criam um mapa de calor de usuários, colhendo dados de quais foram os corredores percorrido­s pelos clientes para melhorar a exposição de produtos e diagnostic­ar os mais procurados e até mesmo playground virtual em lojas de brinquedos.

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ALBOOM/DIVULGAÇÃO Vida. Tecnologia permite que uma foto possa ver apreciada em um vídeo com o uso de um smartphone; serviço custa a partir de US$ 9 por mês
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IGUI/DIVULGAÇÃO Igui.

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